5 DISCOS #13

A série 5 DISCOS é uma forma de apresentar ao público alguns álbuns e compactos lançados que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

 

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à décima terceira edição:

VOLAPUQUE (Volapuque, 2019)

Definido por seus próprios autores como um projeto baseado na mistura de concretismo lírico com influências musicais tão díspares (e deliberadamente disquietantes) quanto John Cage, Fugazi e Sonic Youth, este registro epônimo do quarteto Volapuque é um caso raro de trabalho experimental que consegue provocar estranhamento sem jamais descambar pro puro nonsense e/ou afastar o ouvinte no processo. Composto por 10 faixas que cobrem pouco menos de 40 minutos, este LP apresenta uma costura fortemente calcada no Noise Rock que abraça uma estética lo-fi para criar vibes específicas a cada track, mantendo um forte senso de dinamismo durante toda sua duração.

Da pulsante faixa de abertura (Eu (Maikóswski)) até seu encerramento claudicante (Curva), este Volapuque LP mescla instantes de ares lisérgicos (Lodo, Fluxo e Chovendo Querosene) com momentos energéticos que flertam com Pós-Punk (Esboço, a melhor do registro, Erro e In-Tensão / Mulher Maravilha), Funk Rock (Amanheceu) e até Krautrock (Travessia) numa colcha de retalhos que se mantém admiravelmente fluida e homogeneamente imersiva a partir duma sonoridade crua e repleta de arestas. Fortemente recomendado para aqueles que desejam ouvir um som potente e bem delineado que se preocupa mais em imprimir uma sensação que apregoar um discurso.

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DECREATION FACTS (FireFriend, 2023)

Quarto disco da magnífica FireFriend a ser resenhado neste site, este Decreation Facts representa mais uma bem-vinda incursão na distopia sonora promovida por seus autores a partir duma mistura de arranjos esparsos, efeitos abundantes, vocais monocórdios, andamentos vagarosos e um senso geral de desolação que já se tornou assinatura da banda. Trazendo doze faixas que trespassam 46 minutos de duração para abordar as diferentes possibilidades dum apocalipse próximo em decorrência de incontáveis exemplos recentes de colapso social, este registro imediatamente chama a atenção por se mostrar o álbum mais curto (comparativamente falando) e liricamente sombrio do trio paulistano até então, configurando-o como um trabalho de ambição temática e urgência insuspeitas.

Permeado por uma tensão que se manifesta desde os primeiros segundos da faixa-título que abre a audição, este LP se distingue ao se estruturar sobre uma energia propulsora que perdura ao longo de boa parte da tracklist (vide as ótimas Acid Rain High-Speed Clouds, Infrared e Moldy Cream), encontrando algumas áreas de respiro (Outer Limits, Beatrice’s Cake e Last Letter from the Reckless Son) até encerrar de maneira desoladora (a emblemática We’re Going in the Wrong Direction, que figura como a melhor do registro). Novamente servindo como um atestado das vozes artísticas singulares de Yury Hermuche e Julia Grassetti, Desecration Facts é um trabalho denso e incisivo que surge como mais uma adição exemplar à vasta discografia de seus autores e indicação obrigatória para aqueles que ainda não escolheram uma trilha para o fim do mundo.

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FUZZY AND WILD (Colt Cobra, 2022)

Terceiro disco do trio vilavelhense Colt Cobra, este Fuzzy and Wild se enquadra completa e confortavelmente na definição de Raw Dirty Blues apregoada com orgulho por seus autores. Retomando o punk blues rude e vigoroso estabelecido nos registros anteriores (Blues Punk EP, Raw Trash Blues e o divertidíssimo disco epônimo de 2020), este novo registro reitera o compromisso da banda com uma identidade sonora clara e destituída de qualquer tipo de concessão.

Novamente trazendo dez faixas que, seguindo a caracterização lo-fi dos discos anteriores, compreendem menos de meia-hora de duração, este LP tem seu magnetismo calcado em seu foco de águia e sua proposta cristalinamente simples: Abrir a audição com um estouro (a empolgante Thrills), bombardear o ouvinte com uma sequência ruidosa e dançante (vide Have a Good Night, Living the Day, Don’t Try e Another Breath) e encerrar com folga suficiente para que este peça um bis (a pegajosa I’ve Been There). Evocando recorrentemente os melhores exemplares do gênero (particularmente Flat Duo Jets), Fuzzy and Wild faz jus ao seu nome e figura como um daqueles (cada vez mais raros) trabalhos que conquista por mostrar a que veio com franqueza e entrega. Sugerido ouvir com bastante espaço para dançar.

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SHITSUNAMI (Shitsunami, 2021)

Fazer Stoner Rock é uma tarefa extremamente árdua por definição, ainda mais quando diante da tentativa de atestar autenticidade ao mesmo passo em que se evoca os medalhões do gênero de maneira pontual (particularmente Queens of the Stone Age, Kyuss ou Red Fang). Sendo assim, é notável (e muito bem-vindo) quando uma banda independente consegue equilibrar estas duas dimensões com clareza e desenvoltura, executando sua visão com segurança, como ocorre com o quarteto Shitsunami neste potente disco de estreia.

Composto por sete faixas que cruzam curtíssimos 20 minutos de duração, o primeiro álbum do projeto encabeçado pelo guitarrista (obviamente) e vocalista Hugo Ali é eficaz em mostrar o peso e o escopo da sonoridade carregada de seus autores por meio de passagens marcantes que oscilam entre uma empolgação contagiante (a ótima No Way, Out e Decompose) e um mood soturno que flerta pesadamente com o Grunge (vide In Circles, Not Worth the Wait (Weight) e Confuse), resultando num trabalho conciso e pungente que serve como um parrudo cartão de visitas. Evocando exemplares notáveis dentre seus pares (vide Black Drawing Chalks), o LP Shitsunami é um soco no ouvido que vale ser revisitado para bater cabeça e fritar pesadamente nas guitarras.

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KILL THE BUZZ (Baboon Ha, 2020)

Dentre o tsunami de trabalhos musicais lançados durante o período da pandemia em 2020, poucos se mostraram tão desconcertantemente marcantes e evocativos para nossa editoria como este Kill the Buzz. Primeiro álbum completo lançado pelo (então) recém-formado Baboon Ha após a estreia com um ótimo compacto (Overlapping Days, que traz a fantástica Quarantine), o disco consolida a sonoridade do trio carioca com uma tracklist que parece saída diretamente duma fenda temporal criada pelo rock alternativo dos anos 90 e pelos idos do indie rock que se tornou referência a partir dos anos 2000 num exercício estilístico chocantemente autêntico e confessional.

Estruturado a partir de oito faixas que se estendem ao longo de enxutos 32 minutos de duração, Kill the Buzz é, acima de tudo, um trabalho profundamente apaixonado e apaixonante por seu caráter declaradamente reverente e entusiasmo irrefutável. Abraçando com gusto e propriedade as bases de universos sonoros de outrora, KTB já inicia de maneira estrondosa com My Own Private Hell para, então, reiterar categoricamente suas intenções com a fantástica Dead Star (a melhor do disco) e seguir por uma jornada caleidoscópica de vivacidade arrebatadora. Da onda viajandona de Vaccine, passando pela doçura de The Apartment e Caramel até o suíngue super malandro de The Bug, KTB constantemente passeia pelo vasto arcabouço de referências de seus autores para explorar diferentes paisagens com entrega irrestrita até culminar num encerramento apoteótico e genuinamente tocante (Hyper Real).

Servindo como uma senhora vitrine para os talentos de Felipe Vianna (Guitarra/Vocal), Lucas Faria (Baixo) e Rodrigo Naine (Bateria), Kill the Buzz é um disco prístino que, realizado com apuro e alma patentes, reitera a tese de que é perfeitamente possível expressar uma voz artística a partir da adesão às referências fundamentais que movem o autor sem demagogias. Vale MUITO a pena ouvir para ser movido e transportado. 

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