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5 SINGLES #4

 

A série 5 SINGLES é uma forma de apresentar ao público algumas faixas lançadas que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à quarta edição:

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INOCÊNCIA (Boogarins, 2020)

Faixa integrante do recém-lançado Manchaca (compilação de demos e outtakes realizados em Austin, Texas), o single mais recente do Boogarins é fruto do processo produtivo que trespassou a realização dos discos Lá Vem a Morte (2017) e Sombrou Dúvida (2019), representando um de seus lançamentos mais inusitadamente solenes e enxutas. Basicamente uma balada agridoce de ares melancólicos, a faixa se distingue fortemente da sonoridade tradicionalmente associada ao grupo goiana por conta do vocal discreto do baixista Raphael Vaz, o Fefel.

Acompanhado por um clipe realizado por Gabriel Rolim que acentua o senso de solidão trazido pela letra com suas imagens esparsas, Inocência é uma faixa relativamente atípica para seus autores, mas que carrega a forte carga lisérgica e emotiva que caracteriza seu trabalho. Pode soar mais como uma curiosidade na substancial discografia da banda, mas é uma adição ao seu repertório que traz um charme todo particular. Vale a pena conferir.



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SOSSEGO (Douglas Lopes e Heviny Moura, 2020)

Lançamento mais recente do cantor e compositor capixaba Douglas Lopes, esta Sossego é uma daquelas faixas que, descontraídas e contundentes em medidas equivalentes, surgem como um alento diante da situação caótica na qual o mundo se encontra há pouco mais de um semestre. Realizada no BRAVO Lab com produção de Rodolfo Simor e feita dentro duma lógica minimalista (que traz inclusive a alcunha Minimal Sessions), a track é uma canção folk que traz um dueto entre Lopes e Heviny Moura (a qual emprega sua voz e seu violino cheios de gravitas) para transmitir uma mensagem de resiliência e contemplação num contexto de saturação e estresse constantes.


Trazendo a reboque um belo clipe realizado pela Voidasterisco Produções que, gravado no Estúdio Bravo e dirigido / fotografado pela inigualável Melina Furlan, registra a interação entre os músicos e o senso de paz contido na letra dentro de uma cena altamente intimista, Sossego surge como uma ótima pedida de som para espairecer diante de circunstâncias caóticas e que fixa na mente do ouvinte por conta de sua mistura de coesão, elegância e fortitude.



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CAMBURI (Érika Nasser, 2020)

Single de estreia da cantora e compositora Érika Nasser, esta belíssima Camburi figura como a primeira faixa de trabalho da capixaba após despontar com seu canal YouTube (no qual interpreta diversas canções e realiza uma série de matérias e entrevistas bem interessantes), integrando também o vindouro compacto Amarelo-Ouro. Embalada pela voz enrouquecida e imbuída de suavidade de Nasser e seu ukulele, a canção é uma declaração de amor e saudade de doçura e simplicidade apaixonantes, ancorada numa letra repleta de poesia.

Contando com um lyric video animado por Janine Quemelli e Daniel Barcelos que evoca o universo simbólico de sua autora e ilustra a natureza compassada e nostálgica da faixa de maneira extremamente acertada, Camburi é uma excelente prova do talento de sua autora enquanto entidade autoral, servindo também como um fantástico cartão de visitas e estímulo para acompanhar seus movimentos futuros com atenção. Por ora, vale imergir com calma.



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CUIDA (Camurça, 2020)

Não deixa de ser um pouco irônico o fato de que uma das bandas mais inadvertidamente otimistas e humanas escutadas pela editoria do Cydonia nos últimos tempos tenha surgido justamente no nefasto ano de 2020, em meio a um dos maiores momentos de caos globalizado da História. Não obstante, a sonoridade do Camurça (a qual abraça uma miríade de estilos musicais para trazer canções leves e edificantes) se mostra diametralmente oposta ao espírito de sua época, assim como sua produtividade hercúlea (dois singles, um compacto e um disco!) ao longo dum período desolador, tornando o duo um projeto altamente intrigante por definição. E poucas faixas dentre seus (inúmeros) lançamentos recentes registram esta caracterização tão bem quanto a viciante Cuida.

Fundamentalmente uma canção de pop reggae que traz um senso de calor humano e descontração desconcertantes, a faixa emprega sua levada embalada, letra confessional e a voz dinâmica de Enzo Camurça para transmitir uma mensagem fundamental de compaixão e cuidado com o Outro num momento particularmente crítico da Humanidade. E é interessante notar como que o clipe animado produzido por Handel Meireles emprega sua estética cartunesca para estabelecer uma narrativa que compreende os subtextos mais sensíveis da canção. É um trabalho cativante e de nuances sorrateiramente impactantes que ainda figura como uma senhora prova da qualidade sonora e versatilidade de seus autores.



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ME LIBERTAR (Aya, 2020)

Falando da forma mais sucinta o possível: O quarto single da cantora AYA é uma daquelas faixas que, misturando densidade, classe, fluidez e verdade emocional de forma inequívoca, reitera a força ímpar do R&B em sua capacidade de captar e envolver o ouvinte com propriedade e autenticidade insuspeitas ao mesmo tempo em que expressa uma visceralidade nítida por meio de uma voz retumbantemente potente.

Estabelecendo pontos de contato com sonoridades contemporâneas (como o Trap, o Pop e o Soul) ao mesmo tempo em que evoca as convenções estéticas do estilo musical referencial para realizar um desabafo catártico numa reflexão de recuperação, AYA consegue conciliar tradição e inovação com um senso de autenticidade de forma altamente marcante. E é interessante notar aqui como que a faixa consegue se mostrar reverente e descolada, preenchendo o vão entre a familiaridade e a novidade com uma naturalidade impressionante.

Contando com uma produção impecável e arranjo de precisão cirúrgica por parte do co-compositor Julio Mossil associado a um senso de sofisticação evidente, esta Me Libertar é um dos melhores exemplares do fascinante R&B brasileiro que reitera sua autora como uma força criativa de futuro potencialmente brilhante. Trabalho fino e honesto que merece múltiplas audições.



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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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