Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais grupos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Retomando as atividades, vamos à décima primeira edição:
Evidenciado por conta de seus clipes elaborados e de sua sonoridade popesca que traz fortes pinceladas dum experimentalismo tradicionalmente associado ao Radiohead da fase Amnesiac e à Björk da fase Vespertine, o Grandphone Vancouver é uma daquelas iniciativas artísticas fundamentalmente individuais que consegue a proeza de ultrapassar a fronteira da realização pessoal por conta de sua qualidade e visão holística.
Produto da mente altamente focada do paraibano Fernando Ventura, o projeto impressiona tanto pelo apuro de suas composições quanto pela forma com que consegue empregar um senso de ambivalência para funcionar com propriedade em dois planos artísticos distintos, ainda que simbióticos (vide o lindíssimo clipe de Life is Long Enough). Com uma discografia fasciculada em singles e compactos, o Grandphone Vancouver é o tipo de projeto que atrai pela mistura de honestidade e precisão que emprega dentro dum escopo ambicioso, merecendo a recomendação pela força dos resultados alcançados no processo.
Projeto solo do incansável Rodrigo Lemos (mais famoso pela Banda Mais Bonita da Cidade e pela participação em projetos como o ótimo Naked Girls and Aeroplanes), Lemoskine é, também, sua investida mais madura e atraente. Incorporando uma gama de influências (MPB, Samba, Folk, Psicodélico e o que mais der na telha) para criar uma sonoridade pulsantemente familiar, o curitibano revela nesse projeto uma leveza contagiante, mas repleta de substância (registrada nos ótimos Toda a Casa Crua e Pangea I Palace II).
Equilibrando com discrição a estética e a poética num invólucro de suavidade, Lemos dá mais uma mostra de versatilidade e comprova que funciona bem melhor quando abraça um espírito descompromissado para dar vazão à sua criatividade. Som perfeito para se sentir bem e refletir em medidas equivalentes.
Uma das figuras de persona mais discretamente simpática vista nos anos de atividade do RTC desde a primeira formação, Sofia Freire é uma artista intrigante: Munida de uma voz expressiva, evidente proficiência técnica e de uma maturidade que forma um contraste acentuado com sua jovialidade, a musicista pernambucana realiza um trabalho de precisão cirúrgica e sofisticação inegável que impressiona tanto pela riqueza quanto pela forma hábil com que concilia elementos vindos duma vasta gama de influências.
Contando com dois discos fantásticos no currículo (Garimpo e Romã) e com um conjunto de composições que transitam entre o erudito e o moderno com dinamismo e fluidez, Freire figura como um exemplar daqueles talentos que podem passar despercebidos no primeiro momento, mas merecem ser acompanhados com atenção. Recomendado para aqueles que procuram um som classudo que cria uma ponte entre o Electro Pop e a MPB com propriedade e estilo inquestionáveis.
Dona de uma sonoridade caleidoscópica que surge como reflexo direto de sua persona vivaz, TAMY é uma figura de energia e espontaneidade irresistíveis. Tendo efetivamente construído sua carreira nos anos 2010, a cantora capixaba emprega o Pop e a MPB como base para realizar um trabalho estilizado que, oscilando entre uma familiaridade reconfortante e uma imprevisibilidade quase plena, traz como constantes a potência de sua voz cristalinamente nítida, a elegância na conceituação, sensibilidade patente e a qualidade na realização ao mesmo passo em que incorpora o ethos e a estética das influências de cada movimento de sua autora (vide o Candombe, incorporado em Parador Neptunia, seu quarto disco).
Com uma trajetória vasta e diversificada a ponto de tornar impossível o resumo num parágrafo e uma discografia parruda (que inclui os ótimos Caieira e o supracitado Parador Neptunia) que se mostra homogênea em seu caráter radiofônico, Tamy é uma artista versátil e irrestrita cuja inquietude e inventividade não apenas se materializam de forma categórica em seus registros como lhe conferem uma autenticidade cativante. E isso é muito mais que suficiente para garantir esta recomendação.
Desde que despontou no início dos anos 2010 com o magnífico Canções de Apartamento, o cantor e compositor Cícero vem se consolidando como um dos nomes mais sóbrios e sólidos da atual geração que vem crescendo na Música Brasileira por conta de seu trabalho rico, coeso e dotado duma sutileza particular.
Trazendo um arsenal extenso de canções que mesclam MPB, Folk e elementos estilísticos duma miríade de influências com parcimônia, o músico carioca se distingue entre seus pares pela maneira singela e comedida com que aborda cada uma de suas composições, dando vazão a volumes de expressividade não por meio de arroubos energéticos ou duma estética grandiloquente, mas pela conciliação calculada entre sua voz solene, letras confessionais e senso de deliberação que permeia cada uma de suas faixas em meio a arranjos repletos de aprumo e nuance.
Com um vasto histórico de colaborações e uma discografia progressivamente fascinante (que inclui os ótimos A Praia, Cícero & Albatroz e Cosmos), Cícero é um cancioneiro de mão cheia que apresenta um universo de introspecção com uma paciência atípica para realizar catarses quietamente eficazes. E esta abordagem não se mostra apenas corajosa, mas um ato de resistência diante do caráter cada vez mais frenético de consumo musical que merece ser valorizado e reconhecido.