5 BANDAS / ARTISTAS #16

Parte do (cada vez mais) fascinante universo de bandas shoegaze em atividade no país, a brasiliense OXY vem se firmando como um dos exemplares mais consistentes e bem-delineados a darem as caras neste circuito, mesmo com seu pouco tempo de atividade. Mesclando o gênero supracitado com elementos de Dream Pop, Psicodelia e fortes traços de Vaporwave num pacote diegeticamente característico, a banda recorrentemente impressiona pela mistura de aprumo estético, coesão e execução precisa, resultando num trabalho de proposta admiravelmente nítida e sólida.

Norteada pela voz solenemente pungente de Sara Cândido e por um senso de familiaridade que intensifica a percepção em torno de sua eficácia em vez de depor contra, a OXY conta com um grupo de registros admiráveis em sua discografia (incluindo o viciante Fita) e vem abrindo caminho na selva do universo alternativo nacional rumo a se tornar um dos nomes mais precocemente resolutos em circulação. Projeto sincero e feito com esmero que não apenas vale acompanhar com atenção, como também torcer fortemente a favor.

Projeto-solo da produtora e multi-instrumentista Rita Oliva (Cabana Café, Parati, dentre incontáveis outras colaborações), este Papisa representa também seu trabalho mais maduro e pessoal até então. Iniciado em 2016 e realizado dentro dum ethos Do It Yourself como parte dum processo transformador de desbravamento filosófico, espiritual e artístico, o projeto é um ponto de vazão para que Oliva realize uma série de contundentes reflexões e meditações sobre o Feminino com eloquência e elegância equivalentes na forma de canções altamente envolventes que se desenvolvem com parcimônia e um forte senso de poética, ritualização e espiritualidade.

Edificado sobre a perspectiva da presença integral em cada aspecto do processo produtivo e da colaboração com figuras que compartilhem intimamente da perspectiva central do projeto, Papisa é um projeto intensamente pessoal que não apenas já resultou em registros admiráveis (incluindo o excelente Fenda) como promete render frutos cada vez mais substanciais. Indicado para aqueles que desejam conhecer um trabalho calculadamente introspectivo e autoral no sentido mais íntimo da palavra.

Fundada no país Limeira em 2014, a paulista Cigana rapidamente vem ganhando tração e reconhecimento como uma das bandas de rock alternativo mais discretamente promissoras e consistentes a surgirem no circuito independente nos anos 2010. Com uma sonoridade que pode ser descrita como um indie caracteristicamente brazuca e com pinceladas de psicodelia, o quinteto tem seus maiores diferenciais em sua versatilidade e senso de despojamento, recorrentemente entregando composições econômicas e altamente palatáveis que mostram seu escopo criativo sem jamais pender para arroubos excessivos ou para a prolixidade que volta e meia acomete exemplares com propostas similares.

Fortemente ancorada na alternância dos vocais de Victoria Groppo e Caique Redondano somada ao entrosamento dos demais membros e aos arranjos criativos que derivam deste, a banda conta com um apanhado de compactos e um eficiente disco no currículo (o elogiado Todos os Nós) e vem trilhando o caminho das pedras com dedicação para se consolidar num ponto de intersecção cada vez mais disputado do rock nacional. Recomendada para aqueles que desejam ouvir um som direto que entrega o que promete com competência, sensibilidade e honestidade patentes.

Mais um lócus de comunhão criativa e espiritual através da Música que uma banda propriamente dita, a RAKTA é uma iniciativa formada em 2011 que tem figurado recorrentemente como um dos melhores projetos experimentais em atividade no país desde sua incepção, sendo também um de seus nomes referenciais nos anos 2010. Encabeçado por Carla Boregas (baixos e eletrônicos) e Paula Rebellato (synths e voz), o projeto funciona como um grupo rotativo baseado no desenvolvimento de paisagens sonoras altamente elaboradas e de ares fantasmagóricos que primam pela abstração e pela expressão dentro duma lógica sonora que pode ser descrita como uma espécie de "bombarda transcendental", trazendo sempre arranjos abrasivos e muito peso a reboque de motifs espirituais e cósmicos.

Dona de um vasto histórico de apresentações nacionais e internacionais (incluindo uma antológica performance no KEXP) notáveis pela qualidade técnica, caráter energético e pela coesão, assim como uma discografia parruda que corresponde à altura de sua espontaneidade (e que inclui os ótimos III e Falha Comum), a RAKTA constantemente surpreende pela mistura de digressão e precisão que registra a cada lançamento, empregando sua estética soturna e fortemente calcada no pós-punk para realizar explorações intensamente expansivas, mas nunca digressivas ou desfocadas. Altamente recomendada para aqueles que desejam conhecer um som simultaneamente contundente e esparso que conduz o ouvinte de forma deliberada, mas jamais indiferente.