Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais trabalhos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre lançamentos que têm dado as caras no nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à terceira edição:
Pequena pérola que orbita na rede há alguns anos, este primeiro EP do Negative Mantras serve como um ótimo cartão de visitas para a sonoridade viajandona e densa desse projeto experimental. Produzido pelo próprio duo no Mono Mono Studio e contando com cinco faixas que se estendem por 25 minutos de duração (configurando-o quase como um mini-álbum), esse primeiro registro se revela particularmente bem-sucedido em revelar a versatilidade e o talento de seus autores em misturar batidas, instrumentos, efeitos e texturas peculiares para montar climas sonoros radicalmente diferentes entre si, mas homogeneamente imersivos (nesse aspecto, vale frisar a carro-chefe Pineal, Gayo Seco e a magnética Claridão).
Agradável e estimulante em iguais medidas (imagine algo próximo do conceito de Pop Esquizofrênico), Negative Mantras EP é o tipo de trabalho de estreia que não apenas abre as percepções acerca do que é possível fazer com uma concepção coesa como ainda apresenta um projeto sólido e extremamente gratificante em suas idiossincrasias. Vale a pena conferir.
Último registro de estúdio do grupo paulista Seamus, o potente Red EP é um curto e eficiente testamento da força de seu rock n’ roll. Ancorado no vocal eficientemente discreto de Fernando Lalli e contando com quatro músicas que abarcam pouco mais de 18 minutos de duração e alguns candidatos a hits (Red e Ambush in the Night), o EP é um trabalho descompromissado e feito com apuro onde ideologias e posturas formatadas são abdicadas em função de uma sonoridade simples e direta. Boa pedida para quem curte rock com uma pegada oitentista.
Ok, a inclusão deste trabalho na lista pode soar como um cheat por ter sido feito na Alemanha, mas isso é um mero detalhe. O que importa é que este projeto da incomparável Sabine Holler não apenas reforça algo que já sabemos sobre sua autora (que a jovem paulistana é um poço de criatividade e tem uma habilidade para montar projetos paralelos comparável apenas à de Liege Milk e Larissa Conforto) como ainda apresenta uma nova faceta de sua musicalidade, indo fundo em sua inclinação para desenvolver sonoridades viajantes e imersivas.
Realizado ao lado de Bjorn Eichhorn, o primeiro EP do Mawn atrai tanto por sua proposta minimalista quanto por seu caráter introspectivo, trazendo cinco faixas compassadas (vide Symmetry, Sulfur e Barren Fruits) que se desenvolvem com calma e se ancoram nos arranjos econômicos e na voz suave de Holler (que também escreveu todas as letras aqui contidas). E, ainda que seu clima possa afastar algumas pessoas, o fato é que Um EP tem elegância e resolução de sobra para manter o interesse neste projeto promissor. Recomendado para aqueles que desejam viajar num som denso que se assemelha a uma mistura inusitada de Massive Attack e Björk com ecos de Radiohead.
Trabalhos instrumentais não são estranhos às páginas do RTC, e isso não é nenhuma novidade. No entanto, é raro que recomendemos algum exemplar do gênero que não saibamos destrinchar e interpretar de uma forma mais precisa, como ocorre com esse interessante Mouseen. Estranho e digressivo, o disco do Jovem Palerosi soa como uma colagem de impressões sonoras que acabam se misturando em meio a inúmeras influências e uma pluralidade de elementos dissonantes que criam paisagens sonoras evocativas (vide Sou Toda Nanuk, Hiperlúdio e Deuses Mutados), lineares e confusas. Enfim, não dá pra explicar direito, mas vale a pena escutar.
Fruto da parceria entre Filipe Miu e Sabine Holler (sim, ela novamente), o segundo EP do Fragile Arm pode ser definido como uma versão sonora e emotiva de um filme de David Lynch: É estranho, perturbador e por vezes confuso, mas sempre hipnótico e inegavelmente marcante. Com cinco faixas que mesclam instrumentais elegantemente econômicos com letras poéticas e vocais sensacionais que beiram a esquizofrenia, O Desdobramento de uma Fé Desacreditada é o tipo de trabalho que constrói uma forte impressão através de variações bombásticas que vão da dissociação (Encarando o Teto) à catarse (a sufocante Ahquaseesqueci) com segurança absoluta, ainda passando pela solenidade (Precipitações e Vai Assim Mesmo) e por um sentimento de pura resignação (O Excesso De Todas As Outras Coisas Que Não Deveriam Estar Nesse Quarto) em curtíssimos 16 minutos.
Denso, intenso e surpreendentemente edificante, O Desdobramento de uma Fé Desacreditada é o tipo de trabalho sucinto e complexo que cresce a cada visita e que põe à prova o talento de seus autores, sendo também uma das maiores pérolas experimentais já resenhadas no Cydonia. Obrigatório para quem não tem medo de Música.
Dúvidas? Sugestões? Reclamações? Entre em contato enviando um email para roadtocydonia@gmail.com ou mande uma mensagem diretamente na página oficial do site no Facebook. Conheça os outros conteúdos do site na página inicial e até a próxima edição.