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5 SINGLES #1

 

Reiniciando as atividades do site neste mês de Julho, a série 5 SINGLES estreia como uma forma de apresentar ao público algumas faixas lançadas que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à primeira edição:

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WASTED LANDS (Bad Feels Club, 2019)

Mesclando verve, agilidade e um senso de urgência contagiante, este single de estreia da Bad Feels Club é um cartão de visitas de crueza e jovialidade irresistíveis. Trazendo uma dinâmica marcada pela alternância entre passagens de comedimento tenso e arroubos de frenesi, esta Wasted Lands chama a atenção pela forma direta e reta com que expõe a amplitude da sonoridade do grupo emo ao mesmo passo em que sugere sofisticação estética por meio dos arranjos e timbres empregados.

Fortemente ancorada na confluência entre o vocal espasmódico de Enzo Salviato e a guitarra fluida de Guilherme Cavassa, a faixa faz jus ao nome do projeto por meio de sua letra (a qual sugere um universo de hostilidade e amargura) e pela forte inquietação que expressa a cada estrofe, imprimindo de forma categórica e aderente a proposta musical e simbólica da banda. Uma apresentação precisa e empolgante para um projeto que promete render frutos interessantes no futuro e que merece ser ouvida no repeat por conta disso.



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LOST CAUSE (DOZZ, 2019)

Bandas Stoner são cada vez mais raras hoje em dia. Bandas de Classic Rock, nem se fala. Quando cruzamos esses dois universos, chegamos não apenas a um tipo híbrido de som que parece fadado a um nicho cada vez mais estreito, mas também a Lost Cause, faixa mais recente do DOZZ. Lançado em formato de clipe, o segundo single do trio vilavelhense se caracteriza fortemente como uma faixa calcada na costura calculada de elementos estilísticos oriundos duma vasta miríade de influências - há ecos de exemplares clássicos como Black Sabbath e Faith no More até alusões a exemplares mais contemporâneos, como Kyuss e a potiguar Far From Alaska - para desenvolver um som vigoroso e de charme vintage. Abrangendo pouco mais de quatro minutos, a faixa consegue transitar entre diferentes paisagens orientadas por riffs que funcionam quase como micro-atos de forma reverente e agradavelmente familiar, mas sem jamais soar derivativa.


Mais que isso: Se há algo genuinamente interessante na sonoridade de Lost Cause (e da Dozz, até o que se ouviu) é a maneira com que o trio se distancia das inclinações tradicionais abraçadas por projetos que têm seus trabalhos ancorados na combinação do duo guitarra + bateria como base para a construção do som. Ao fugir destas fórmulas estabelecidas (leia-se: orientadas para o blues rock ou para o punk blues) e abraçar uma estética mais gritty e grave (tanto na guitarra de João Depoli quanto nas bateria de Carlos Henrique), o grupo encontra um direcionamento para o desenvolvimento duma identidade particular que também funciona dentro do plano da referência vocabular. E se isso não for suficiente para garantir uma audição, que a energia bruta e repleta de aspereza aqui empregada o faça. Vale a pena conferir.



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QUENTE COMO NA FRONTEIRA DO MÉXICO (Alinne Garruth, 2020)

Com uma sonoridade árida, esparsa e dotada de um forte senso de latinidade, Quente como na Fronteira do México não poderia ter um título mais fidedigno. Faixa integrante do futuro disco Abre Alas, o single mais recente da cantora Alinne Garruth impressiona pela forma com que mescla um arranjo de secura intrigante, um vocal repleto de suavidade e uma letra que esbanja sensualidade (imagine a versão sonora duma cena de Ata-me!) num pacote estranhamente hermético, mas inegavelmente magnético.

Encontrando na escolha criativa de timbres e na criação de espaços amplos a forma ideal de maximizar o impacto da energia pulsante de sua autora, QCNFDM é uma música de trabalho curiosa que capta a atenção pela forma com que estabelece pontos de contato com uma estética sonora popesca ao mesmo tempo em que abraça um laconismo harmônico que soa contra-intuitivo, mas que acaba funcionando incrivelmente bem. E, se esta faixa for um indicativo do que podemos aguardar no disco, vale acreditar que teremos um trabalho bem interessante vindo aí. Aguardemos até lá.



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DARK CLOUD (Dan Abranches, 2020)

Dark Cloud é uma música densa por definição. Seja por conta de sua sonoridade parruda (a qual mescla blues e soul com eletrônico), seja por conta de seu subtexto lírico (o qual remete à sofrida natureza da vida dentro de um relacionamento abusivo), seja pela visceralidade de sua letra confessional, a track de Dan Abranches lançada como prenúncio do vindouro Titán é o tipo de faixa que, contemplativa e expurgativa em medidas equivalentes, simboliza uma audição constantemente instigante por possibilitar leituras amplamente díspares acerca de seu conteúdo.

Trazendo um senso de ambivalência fascinante que é devidamente representada no arranjo e na melancolia que exala, a faixa representa mais uma ótima adição ao crescente (e cada vez mais notável) repertório de Abranches, sendo também amparada por um otimo clipe (dirigido pela dupla MAGU) que não apenas traduz seu mood para um plano visual como o amplifica através duma concepção visual elegantérrima. Altamente indicada para quem deseja um som elegante e de tons mais lowzescos.



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DEIXA SOSSEGAR (VITU, 2020)

Às vezes, menos é mais. Por mais que as possibilidades de abordagem e caracterização de um trabalho dentro do plano da produção musical sejam virtualmente infinitas, em vários casos, uma abordagem minimalista e sóbria se mostra fundamental para que a carga emocional duma canção seja transmitida em sua plenitude. No entanto, em casos e contextos bem específicos, tal abordagem consegue alcançar seu propósito de forma tão pungente que o efeito transcende uma assimilação mais superficial, deixando impressões muito mais intensas e persistentes que se imagina por conta da intensidade da conexão alcançada. E é exatamente isso que ocorre com esta belíssima Deixa Sossegar.

Concebida e lançada no contexto da Pandemia do Covid-19, a primeira faixa de VITU, projeto-solo do músico Vitor Locatelli (Moreati), desponta como um magnífico exercício de empatia e humanidade diante de um cenário pavoroso que fomenta grosseiramente o histrionismo, a ansiedade e a desesperança. Com uma concepção sonora enxuta e uma letra de doçura e solenidade desconcertantes, a faixa emprega um arranjo discreto e a voz repleta de paz e compaixão de Locatelli para emocionar e reconfortar o ouvinte ao tocar num dos maiores nervos expostos do inconsciente coletivo contemporâneo com classe e carinho insuspeitos.

Acompanhada por um clipe arrebatador que ilustra a colossal sensibilidade da faixa de maneira sublime (olhares que expressam volumes de emotividade são retratados de forma comovente aqui), Deixa Sossegar é uma obra obrigatória de pontualidade e grandeza espiritual inequívocas que não apenas reitera o imenso poder de conexão de uma boa canção como evoca a célebre frase de Aldous Huxley de que, depois do silêncio, o que chega mais próximo de expressar o inexprimível é a Música.



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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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