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Resenha: #3 (Big Bat Blues Band, 2014)

 

Com o ótimo #3, seu disco mais recente, o antológico grupo capixaba Big Bat Blues Band dá provas cabais das razões para sua existência e longevidade por meio de um trabalho reverente, sofisticado e de espirituosidade irresistível.


É sempre fascinante observar quando um grupo veterano lança um trabalho novo por conta do risco inerente de tal ação. Enfrentando a passagem do tempo (e o desgaste vindo desta), a necessidade de se manterem atuais num cenário musical extremamente saturado e o duro desafio de explorar novas nuances de uma sonoridade há muito familiar, tais bandas estão sempre sujeitas à cilada de soarem repetitivas ou pouco inspiradas. E se faltam dedos para contar os grupos que já caíram nesta armadilha, é sempre um prazer notar quando uma banda do tipo consegue seguir na direção contrária e presentear o ouvinte com um disco que se revela artisticamente realizado e revigorante à sua própria maneira. Felizmente, para o grupo capixaba de Blues Rock, Big Bat Blues Band, é a segunda opção que pode ser ouvida em seu disco mais recente, o ótimo #3.

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Produzido por Eber Pinheiro, #3 é um disco que automaticamente chama a atenção pelo equilíbrio e pelo apuro que exibe em sua concepção. Com nove faixas e 42 minutos de duração, esse novo trabalho do Big Bat surge como uma demonstração de vigor e versatilidade, abraçando o universo bluesesco da banda ao mesmo tempo em que diversifica substancialmente sua sonoridade. Da abertura (You Can’t Cum Alone) ao encerramento (a sombria e excelente Follow Me), o álbum dá sinais do abrangente repertório de influências da banda dentro de seu gênero (há ecos de Rolling Stones, Muddy Waters, Howlin’ Wolf, entre tantos outros).



Mesclando com habilidade passagens animadas (My Mama’s Buying e Look at the Blue Sky), instantes contemplativos (a bela Amanda Blues e a edificante Telephone) e momentos de crueza estarrecedora (The Way That You Leave Me), o disco merece créditos por reconfortar o ouvinte dentro de um ambiente familiar sem jamais soar derivativo, repetitivo ou cansativo. Atrativo também por conta de alusões pontuais (propositais ou não, cabe apenas à banda dizer) a sonoridades relativamente inusitadas (vide 38, a qual evoca Stray Cats), o álbum mantém seu frescor através de seus arranjos elaborados (mas nunca excessivos) e de composições elegantemente diretas que se alongam no disco de forma suave (a média de cada faixa é de mais de 4 minutos), resultando em uma experiência sonora compassada e repleta de nuances.

 

Mesclando com habilidade passagens animadas, instantes contemplativos e momentos de crueza estarrecedora, #3 é um disco que merece créditos por reconfortar o ouvinte dentro de um ambiente familiar sem jamais soar derivativo, repetitivo ou cansativo.

 

Trazendo o Big Bat como uma banda coesa e extremamente eficiente em sua formação ampla, #3 também funciona como um registro do grau de integração existente entre seus membros: da cozinha segura formada pelo baixista Paulo Sodré e pelo baterista Bruno Zanetti, passando pelos backing vocals de Kessy Borges e Larissa Pacheco e pelo Hammond do convidado especial Itaal Schur, o disco apresenta o hepteto como uma máquina bem-engrenada e de funcionamento azeitado. Nesse aspecto, vale pontuar o ótimo trabalho conjunto dos guitarristas Marcelo Maia (que mais uma vez comprova ser dono de um arsenal invejável como riffmaker) e Cláudio França (o qual usa a slide guitar de maneira criativa, conciliando suavidade e agressividade de forma admirável). Por final, o vocalista Eugênio Goulart realiza aqui um trabalho eclético e magnético em iguais medidas, escancarando sua notável potência vocal e conseguindo a proeza de ser diversificado na abordagem com cada faixa, mas uniforme na intensidade que exprime.



 

Robusto, abrangente e dinâmico, #3 é o tipo de disco que surpreende não apenas pela eficiência, mas também pela fluidez (o álbum dará loops sem você sentir, eu garanto) e pelo envolvimento que forma com o ouvinte. E se esse novo trabalho surge incontestavelmente como uma prova de força e resistência deste grupo que, ao longo dos últimos 20 anos, tem se concentrado em fazer um blues honesto, podemos esperar que seja também um indício de que o grupo se manterá ativo pelos próximos 20. Considerando a qualidade do que pode ser escutado aqui, vale a pena torcer por isso.


 
Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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