Mais conhecido por sua longa e prolífica carreira como músico de apoio e colaborador de nomes como Armandinho, Macucos, Tati Portella, Toninho Horta, Zeider (Planta & Raiz), entre outros, Léo Norbim é uma figura maravilhosamente cativante: Dono de uma persona afável, apresentação singela e estética reconfortante, o cantor e compositor capixaba vem desenvolvendo sua carreira-solo em ritmo compassado ao longo dos últimos cinco anos, tendo lançado um apanhado de singles (incluindo os ótimos Seja Feliz e Tá Bem) que registram sua sonoridade folk de ares popescos e mescla poética de leveza e profundidade com competência.
Agora, Norbim dá um salto à frente substancial em sua carreira com este INVERNO, compacto que não apenas dá contorno à sua voz artística com sensibilidade notável e conceito sólido, como se mostra um trabalho incrivelmente universal que surge como uma ode à auto-aceitação de contundência e verdade irrefutáveis.
Produzido por Rodolfo Simor na seclusão do Estúdio Bravo nas montanhas capixabas, este compacto imediatamente impacta por conta de seu caráter esperançoso e espírito inabalavelmente afetuoso: Trazendo quatro canções e um interlúdio (Solstício) que abarcam curtos 15 minutos de duração, Inverno é um registro construído sobre uma série de reflexões identitárias e afetivas que trazem uma mistura profundamente inspiradora de espirituosidade, gratidão e carinho em cada um de seus versos. Refinando a textura folkesca do som de Norbim com maior desenvoltura e senso de precisão, o EP cria uma paisagem que se situa entre a melancolia de Rubel e a vivacidade despojada de Sondre Lerche, criando a base sonora perfeita para que as letras intensamente contemplativas de seu autor sejam emanadas com um equilíbrio delicado entre a coloquialidade e a intimidade.
Da magnífica faixa de abertura (Depois das 10 Am, um hino à rotina que merece virar hit radiofônico) até seu fechamento (a comovente Bia), Inverno também é um trabalho repleto de contrastes, criando volumes de contraposição tanto entre seu espírito reflexivo e otimismo contagiante quanto em suas temáticas universais, as quais são evocadas de maneira cristalinamente clara, mesmo que vistas a partir de experiências bem específicas de seu autor. E não há faixa aqui que deixe esta qualidade mais visível do que a própria faixa-título, que encapsula todo o conceito do compacto de maneira fantástica.
Realizado a quatro mãos, este EP também serve como mais uma prova das habilidades musicais de seu autor e produtor, como não poderia deixar de ser: Enquanto Simor segue um caminho muito mais austero que o habitual ao investir em arranjos enxutos e mais tradicionais (ainda que tenha deixado um belo dum solo na faixa-título), Norbim reitera seu talento como multi-instrumentista (especialmente enquanto violonista), como também seu senso de conforto e consciência das dimensões de seu trabalho. E aqui vale ressaltar Ela, faixa da segunda metade do compacto que segue um senso de momentum interessante dentro de sua dedicatória amorosa.
Incrivelmente delicado, habilmente realizado e viciante, Inverno é um compacto edificante e de sensibilidade insuspeita que não apenas consolida a carreira-solo de seu autor, como já atesta categoricamente seu diferencial dentre seus pares. É um trabalho evidentemente feito com amor que merece ser ouvido no repeat enquanto aguardamos os próximos passos deste cara tão especial.