Evidenciado por conta de sua apresentação no Planeta Terra 2013, o Muddy Brothers é um grupo que desperta curiosidade e admiração em medidas equivalentes tanto por sua qualidade sonora quanto por seu caráter altamente reverente. Surgido em meados de 2012 na cidade de Vila Velha, o trio capixaba atraiu o interesse do público desde sua incepção com sua mistura de Blues e Classic Rock de ares fortemente setentistas, vindo a materializado sua sonoridade e correspondido às expectativas iniciais através desse explosivo disco de estreia, o ótimo Handmade.
Gravado, produzido, mixado e masterizado de forma independente pelo trio, este álbum é, para todos os efeitos, uma apaixonada declaração de amor aos estilos que servem de influências para o grupo. Sem pretensões megalomaníacas de reinventar a roda, grandes invencionices, ou arroubos carregados dum (infelizmente) recorrente senso de auto-importância percebido em exemplares similares, o disco atrai e convence pela coesão e pela força cavalar que apresenta, cumprindo com êxito o propósito de empolgar o ouvinte e reiterar a ideia de que há muito que pode ser feito com uma perspectiva Do It Yourself a partrir duma proposta norteada pela reverência e pelo senso de honestidade.
Com doze faixas que trespassam pouco mais de 40 minutos, Handmade é também um trabalho de velocidade e ferocidade intrigantes, atacando desde sua abertura (a excelente sabbathesca Last Chance Trip) e não dando folga para o ouvinte até sua conclusão. Contando com passagens que misturam grooves dignos de Led Zeppelin com a crueza do blues rock visto em projetos como Flat Duo Jets, passando pela psicodelia (há um toque de Cream sob efeito de speed na magnífica Love Won’t Bring You Down, ouça atentamente) e pelo hard rock (a furiosa Wanna Love You All The Way), as composições aqui vistas se revelam uniformes em seu caráter brutalmente energético e evocativo, criando um equilíbrio bem eficaz entre a referência estilística e a expressão de linguagem. O resultado final é um álbum que, apesar de patentemente marcado por limitações técnicas, soa como uma compilação consistentemente pulsante de potenciais hits tardios (especialmente Dell Vetts) que vieram diretamente de outra era.
Revelando o potencial de seus músicos, Handmade serve também como uma vitrine para as habilidades e para o entrosamento do trio principal. Enquanto o vocalista João Lucas demonstra enorme segurança e alcance em todo o disco (vide Woman For My Track), remetendo constantemente a Robert Plant ao mesmo tempo em que foge de impostações mais artificiais, os irmãos Will Just (Guitarra) e Renato Just (Bateria) demonstram uma química invejável tanto para a criação de uma base sonora extremamente eficiente (vide a ótima Ramblin’ Down My Soul) quanto demonstram talento insuspeito para a criação de riffs potentes (Everything I’ve Got to Give) e linhas rítmicas precisas.
Extremamente veloz, rico em referências e maravilhosamente divertido, Handmade é uma das traduções recentes mais claras da ideia dum trabalho feito de fãs para fãs e registro mais completo da carreira de seus autores até então. Definitivo em seu senso de resolução e escopo, o disco não apenas figura como um dos exemplares rocker mais cruamente honestos já resenhados no Cydonia, mas como um trabalho repleto de alma que merece revisitado periodicamente e remasterizado num futuro mais próximo o possível.