Formado no final de 2019, o grupo de dream pop Rosa Chá é dono de uma sonoridade dançante que traz arranjos calcados na mistura de grooves suingados e instrumentação enxutas somada a um leque referencial sólido (que inclui nomes como Daft Punk, Charlie Puth e The Weeknd) no intuito de explorar uma estética permeada por um senso de sensualidade pulsante que é acompanhado por uma jovialidade e descontração revigorantes. Agora, após o lançamento de dois singles potentes (Doce Amor e O Que Ficou pra Trás), o grupo finalmente lança seu primeiro registro expandido e dá contornos claros à sua proposta artística e sinais claros dum senso de autoralidade com o ótimo EP epônimo ROSA CHÁ.
Produzido por Rodolfo Simor (parceiro recorrente e de facto mentor do grupo) no núcleo Bravo LAB., este compacto pode ser descrito como um cartão de visitas de coesão e nitidez irrefutáveis. Trazendo quatro faixas que abarcam pouco menos de 15 minutos de duração, o EP estabelece o escopo sonoro do quarteto capixaba de maneira categórica, carimbando sua identidade musical com clareza e sofisticação. De sua abertura até sua conclusão, este EP imediatamente chama a atenção pela maneira leve e cativante com que se desenvolve ao mesmo passo em que mostra um espírito radiofônico que permeia toda a audição, formando uma experiência sonora enxuta e altamente envolvente que convida a repetidas conferências de maneira despretensiosa e eficaz.
Vale ressaltar que estas características se mostram claras até no senso de progressão existente no compacto: Enquanto a viajandona Mais uma Vez abre o EP com um senso de compasso e despojamento que gradativamente puxa o ouvinte para a vibe particular do Rosa Chá com calma e suavidade, a subsequente Baby Sente o Groove expande no senso de introspecção descontraída ao trazer uma pegada mais dançante com ecos comedidos de psicodelia em sua estética vaporwave.
A seguir, O Que Ficou pra Trás (a melhor do registro) traz uma forte carga de vivacidade e dinamismo com sua pegada suingada e bizarramente pegajosa (tente não assoviar após ouvir esta faixa) que prepara o terreno para o fechamento com Doce Amor, que catalisa as características cardeais da sonoridade do grupo e encerra a audição de maneira instigante e super relaxada. O resultado final é um trabalho que, milimetricamente concebido e executado com um foco cristalino, cumpre seu papel formal de apresentar o Rosa Chá admiravelmente bem ao mesmo passo em que se mostra um registro de carisma e resolução notáveis.
Como não poderia deixar de ser, este EP também serve como um ótimo registro da dinâmica particular da banda, cumprindo a função de vitrine para as potencialidades individuais dos componentes do Rosa Chá: Enquanto o baixista Gabriel Raymundo e o baterista Roberto Hoffmann estabelecem uma “cozinha” parruda e dotada dum senso de comedimento insuspeito, o guitarrista Victor Rocha dá volume e densidade ao som com suas linhas desenhadas e repletas de cadência, formando uma base sonora sólida e inventiva. Por final, o vocalista e compositor Guilherme Sadala deixa sua assinatura ao explorar sua amplitude vocal com delicadeza e presença enquanto Rodolfo Simor traz sua mistura característica de precisão e raciocínio lateral em seus arranjos e guitarras pontuais.
Curto, classudo e inegavelmente empolgante, o EP de estreia do Rosa Chá é um trabalho realizado com esmero e honestidade patentes que não apenas alcança seus objetivos com retidão e competência, como também dá indícios claros dos possíveis caminhos a serem seguidos por seus autores daqui pra frente. E é interessante notar como que, em meio a um universo tão saturado como o do pop contemporâneo, um de seus exemplares mais retos e contundentes surge justamente de uma proposta simples, direta e indubitavelmente sincera. Vale conferir no repeat e colocar nas playlists.