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Resenha: TSM (TSM, 2019)

 

Retomando as atividades após um longo hiato, o duo vilavelhense TSM se reinventa e entrega uma demonstração contundente de dinamismo e expressividade com seu auto-intitulado álbum de (re)estreia, apresentando um trabalho admiravelmente consistente e vigoroso no processo. (FOTOS: TSM / Divulgação)


Outro nome oriundo do intrigante circuito musical que vem tomando forma no Espírito Santo ao longo da última década, o TSM também figura como um de seus exemplares mais distintivamente curiosos: Concebido como uma iniciativa instrumental fortemente calcada no Do It Yourself e na ideia de exploração por expressão (imagine um exemplar musical psicodélico do movimento mumblecore), este projeto tem seu maior diferencial na dinâmica fluida de seus membros e no caráter digressivo de sua sonoridade, os quais foram devidamente registrados em dois bons compactos (Vol. 1 e Vol. 2). Agora, cinco anos após o lançamento de seu último EP, o duo vilavelhense retorna reformulado e com um novo foco que é materializado com propriedade no epônimo TSM, primeiro álbum completo que aqui soa quase como um parrudo disco de reestreia.

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Produzido pelos próprios integrantes e gravado de forma caseira (exceto as baterias, as quais foram registradas no estúdio Funky Pirata e na Casa Verde), este registro imediatamente se destaca pela consistência do universo sonoro que apresenta: Mesclando Grunge (que aqui figura como campo primário), Psicodelia e fortes pinceladas de Industrial, o LP convence pela forma natural e segura com que concilia elementos de diferentes gêneros musicais e cria um panorama abrangente ao longo de oito faixas e uma coda (a singela The End) que trespassam pouco mais de 28 minutos de duração. Da potente abertura groovesca (Beautifully Weird) até a conclusão enérgica (Deixavai), TSM é um trabalho marcado por passagens enxutas e repletas de personalidade que jamais deixam de causar uma impressão ou de se conectar com o todo, deixando fortes pegadas referenciais e funcionando bem como uma experiência unificada.



Impressionante também por seu escopo (ainda mais quando o caráter modesto de sua produção é considerado), este álbum se mostra um ótimo exemplo de raciocínio lateral pela forma com que contorna a austeridade inerente ao DIY para desenvolver uma identidade estética abrangente, ora sobrepujando as limitações de recursos, ora incorporando-as à sonoridade numa demonstração notável de sobriedade e inventividade - E basta comparar a elegância de Crazy Pie com a crueza de Where Is My Mind para observar esta alternância se manifestando. O resultado final é uma obra que constantemente testa os limites das possibilidades de realização através duma metodologia homemade, alcançando resultados inequivocamente eficazes no decorrer do caminho.

 

Denso, arrojado e ágil, TSM é um disco dotado de um senso de paixão e honestidade insuspeitas que acaba cumprindo a tarefa tríplice de quebrar um longo jejum criativo, mover seus autores adiante e ainda apresentar algo novo no processo.

 

Trazendo a dupla formada por Pedro Moscardi e Raími Leone num momento de maior conforto e maturidade, este registro também reitera o talento de seus realizadores, os quais assumem a maioria dos instrumentos e a mixagem, imbuindo cada track com suas digitais: Enquanto Leone confere presença e gravitas às versáteis linhas de guitarra, Moscardi realiza um acúmulo de funções (vocalista, tecladista, baixista e baterista ocasional) que acaba tendo seu payoff na solidez dos arranjos de cada faixa (Mrs. Lobster and the Watermelon Man é um bom exemplo disso). Enquanto isso, os bateristas Rafael Eskerda e Henrique Paoli enriquecem o LP ao trazer suas respectivas (e distintas) pegadas para as faixas nas quais participam - E aqui vale pontuar a energia explosiva de Eskerda em Boss’s Vendetta e a precisão de Paoli em Tumtum - conferindo camadas adicionais de visceralidade e gusto a um trabalho profundamente catártico e fundamentalmente pessoal.



 

Denso, arrojado e ágil, TSM é um disco dotado de um senso de paixão e honestidade insuspeitas que acaba cumprindo a tarefa tríplice de quebrar um longo jejum criativo, mover seus autores adiante e ainda apresentar algo novo no processo. E que a surpresa diante deste reposicionamento por parte do duo seja sinal de uma nova fase marcada por uma produção prolífica. E, a julgar pelo resultado visto aqui, pode-se dizer que eles estão no caminho correto.

 
Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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