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Resenha: ZEUGMA (Gabriela Brown, 2019)

 

Revelando um universo sonoro rico e multifacetado que mistura Pop, R&B, Soul e Hip Hop num pacote exuberante de qualidade e elegância insuspeitas, Gabriela Brown faz jus ao seu potencial e delineia sua identidade musical de forma apaixonante com seu admirável disco de estreia, o aguardado Zeugma. (FOTOS: Gabriela Brown / Divulgação)


Desde que surgiu no circuito independente no final dos anos 2010, Gabriela Brown gradativamente vem se estabelecendo como uma figura intrigantemente curiosa e magnética: Com uma voz potente, postura imponente e carisma de sobra, a cantora franco-brasileira transitou entre diversos gêneros ao longo de suas apresentações e participações, vindo a conquistar notoriedade e um crescente fan base cativo por meio de seus vídeos no YouTube e do lançamento de um apanhado de singles que demonstram suas potencialidades e versatilidade com propriedade. Agora, Brown retorna com Zeugma, disco de estreia que não apenas comprova categoricamente seu vasto talento como dá contornos ao seu universo sonoro com classe e competência inegáveis.

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Produzido por Rodolfo Simor (SILVA, Solana, Aurora Gordon e André Prando) e gravado no BRAVO Lab, Zeugma pode ser resumido como um poderoso e expansivo atestado de identidade artística. Contando com dez faixas que trespassam pouco mais de meia-hora de duração, o disco costura momentos que, mesmo marcados por uma mistura característica de Pop, R&B, Soul e Hip Hop, exploram o ecleticismo de sua autora sem reservas, formando um leque altamente contrastado de paisagens sonoras homogeneamente eficazes que são reforçadas pelas letras evocativas. Da abertura reiterante (Bonita É o Quê) à sua conclusão (a edificante Garota, Tô no Céu), o álbum demonstra inteligência na forma com que emprega elementos pontuais da vasta miríade de influências de Brown para formar uma costura sonora fluida que sugere certa familiaridade (vide a dançante Look Who I Found) ao mesmo tempo em que investe no experimentalismo num exercício de coesão e precisão notáveis (vide Incêndio, que caminha entre o popesco e o confessional com habilidade).



Além disso, Zeugma também é permeado por um senso de despojamento e doçura cativantes que se mostram presentes tanto em seus momentos mais densos (a catártica Lira e a céuzesca Abelha Rainha) quanto nos mais solenes (vide Bon Voyage e as lindíssimas Volta / Moema, que formam a melhor passagem do registro), conferindo uma bem-vinda leveza à obra. E é interessante notar como que este senso se manifesta até nos interlúdios instrumentais - vide Megalomania, que traz uma ótima jogada com In the Hall of the Mountain King, de Edvard Grieg - resultando numa obra que se mostra surpreendente e constantemente impressionante por sua concepção cuidadosa ao mesmo passo em que se mantém dinâmica a ponto de garantir repetidas audições sem jamais cansar o ouvinte.

 

Zeugma é um ótimo disco de estreia que não apenas comprova categoricamente o vasto talento de Gabriela Brown como dá contornos ao seu universo sonoro com classe e competência inegáveis.

 

Imensamente beneficiado pelo trabalho de uma banda de apoio afiada, Zeugma conta com a contribuição do baterista Rafael Eskerda e de Philip Rios (parceiro recorrente de Brown que aqui assume as teclas e os sintetizadores), os quais formam linhas consistentemente pulsantes que movem o som à frente com segurança absoluta. E enquanto Simor desempenha o papel de leviatã ao assumir diversos instrumentos (incluindo guitarras, teclados, baixo, beats e backing vocals) além da produção musical, o destaque fica por conta da participação soberba de Oziel Netto, o qual emprega o trompete e o fliscorne para criar instantes sublimes nas faixas em que participa (Volta / Moema e Garota, Tô no Céu). Porém, é fato que a grande atração do disco é mesmo a própria Brown, a qual atravessa o disco com paixão e entrega absolutas, trazendo peso e intensidade a cada faixa na qual canta. E por mais que o disco seja repleto de momentos dignos de nota nesse quesito, aqui vale ressaltar suas performances em Abelha Rainha e Moema (sim, de novo. Essa música é BEM foda), passagens nas quais a crescente maturidade e a expressividade da cantora se sobressaem de forma inequívoca.



 

Ágil, viciante e feito com esmero, Zeugma é um trabalho enxuto, sagaz e de energia contagiante que não apenas serve como um magnífico cartão de visitas para sua autora como também figura como prova definitiva de que Gabriela Brown é uma artista altamente promissora que vem crescendo a passos largos e que merece ser acompanhada com atenção. E, enquanto o segundo disco não vem, aguardemos ansiosamente enquanto escutamos esta pérola no replay.

 
 
Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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