Cambriana

Resenha: WORKER 2.0 EP (Cambriana, 2023)

Dez anos depois, o CAMBRIANA revisita seu segundo registro com uma remasterização pristina, reiterando sua posição como um dos projetos mais fascinantes do circuito independente com o fenomenal WORKER 2.0 EP. (ARTE DA CAPA: Sara Holanda)

 

Desde que despontou no radar do público nos idos dos anos 2010 com o eficiente House of Tolerance (e hits como The Sad Facts, Face to Face e Vegas), o Cambriana consistentemente tem dado fortes sinais de ser um dos projetos musicais mais sofisticados e contundentes a habitar o universo da música independente no país com sua sonoridade híbrida, a qual mescla elementos de rock alternativo, folk psicodélico e música eletrônica de maneira altamente elaborada e inventiva.

 

Imediatamente notado por sua qualidade técnica e proposta delineada, o projeto encabeçado por Luís Calil construiu uma discografia impecável (a qual inclui o ótimo Manaus Vidaloka e o soberbo Hedonism) que lhe garantiu forte reputação e uma base fiel de admiradores, equiparando-o sem reservas a nomes como Brian Eno e Radiohead e consolidando sua posição como uma investida artística de escopo e riqueza incontestáveis. Agora, o projeto retorna com WORKER 2.0, remasterização do excelente segundo registro do projeto, refinando sua já notória sonoridade e corroborando sua durabilidade após uma década de maneira incontestável.

Servindo como uma atualização altamente refinada do (já excelente) compacto de 2013, esta versão revisada imediatamente chama a atenção pela maneira com que intensifica o contraste existente entre a obra original e o disco de estreia do projeto (também remasterizado em 2019), acentuando sua vasta densidade e potência no processo. Retomando o repertório de seis faixas que trespassam pouco mais de 20 minutos de duração, Worker 2.0 evidencia ainda mais a troca existente entre a estética popesca e enxuta de House of Tolerance (e sua remasterização) pela construção de arranjos que, intrincados e abrangentes em escopo, expandem o panorama sonoro do projeto de maneira admiravelmente ambiciosa.

 

Vale ressaltar que esta ideia já é expressada de maneira estrondosa com a ótima What Light 2.0, a qual abre o compacto com um coice e cuja linha de baixo repleta de groove surge como uma marreta aqui. Imediatamente pontuando o espírito inquieto que permeia todo o EP, esta faixa inicia de maneira impiedosa uma sequência repleta de passagens que, substancialmente distintas entre si, absorvem o ouvinte numa jornada sonora impreterivelmente imersiva e de potência inequívoca.

 

Da mesma forma, a frenética 47 Daughters 2.0 dá continuidade a este processo, apontando persistentemente para um crescendo que ganha volumes de tensão à medida que o arranjo intermitentemente se desdobra e retrai. Calcada na contraposição entre uma dureza rítmica de ares sufocantes e arpejos elegantes que pairam de maneira imprevisível (e se tornam gradativamente mais sinistros), a faixa se desenvolve como uma panela de pressão, encerrando de maneira abrupta numa resolução brilhante que enriquece o compacto brutalmente.

Esta resolução, diga-se de passagem, consiste numa transição abrupta (e chocantemente elegante) para a terceira faixa do compacto, It Never Works 2.0. Apresentando o primeiro respiro do EP, esta surge como uma balada melancólica que desabrocha vagarosamente até culminar numa transição bombástica, abrindo espaço para uma seção magnífica que subverte expectativas e conclui de maneira incisiva. É uma passagem repleta de sutilezas que contrabalanceia o trecho inicial do compacto com nitidez e elegância.

 

Em seguida, há um interlúdio (Albuquerque 2.0) que abre espaço para a evocativa Heart Keeps Thinking 2.0, a qual conduz a audição para um plano de conforto embalado ao remeter fortemente às canções românticas das décadas de 50 e 60, se mostrando a faixa mais direta (e insuspeitamente apaixonada) do compacto que também serve como um ótimo prelúdio para a conclusão do registro.

 

Conclusão esta que vem na forma da hipnótica Choose You 2.0, faixa de encerramento que não apenas se mostra a mais longa do EP, como também a mais elaborada e catártica. Basicamente uma canção etérea que gradativamente revela múltiplas camadas que se entremeiam numa espécie de mantra viajandão, a track se desenvolve com um senso de compasso invejável até explodir numa longa passagem instrumental que eleva a faixa (assim como o compacto inteiro) a um novo patamar e encerra a audição de maneira retumbante.

 

Ambicioso, econômico e cirurgicamente preciso, WORKER 2.0 é um trabalho classudo que não apenas consegue a proeza de incrementar o compacto original de maneira a acentuar suas potencialidades e maximizar seu impacto (imagine uma conversão de 1080p para 4K), como serve ao intuito de revisitar uma genuína pérola que deve ser amplamente conhecida. Indicação obrigatória.

6 de junho de 2023

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