fabiô

5 SINGLES #11

A série 5 SINGLES é uma forma de apresentar ao público algumas faixas lançadas que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

 

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à décima primeira edição:

INCERTEZA (Pirikito, 2022)

É sempre interessante quando um artista dá uma guinada em seu trabalho que se torna indicativo de nuances ainda inexploradas em seu universo simbólico. No entanto, é ainda mais fascinante quando esta mudança não se dá por meio (apenas) de mudanças estilísticas e temáticas, mas por uma mudança de humor. E é exatamente isso que acontece com Pirikito nesta Incerteza, seu lançamento mais contemplativo até então.

Novamente produzido pelo parceiro habitual Rodolfo Simor, este registro se distingue dos demais presentes no acervo de seu autor pela forma com que substitui a onda good vibes despojada e ensolarada de seus predecessores por uma caracterização mais seca e compassada que é acompanhada duma letra que flerta pesadamente com o Existencialismo. No entanto, é fascinante reparar que esta “variação climática” não destoa ou descaracteriza o trabalho de Pirikito, mas apenas o mostra de outro ângulo, visto que preserva o mesmo senso de humanidade e solenidade que vem caracterizando seu autor.

Vale ressaltar, esta contraposição é devidamente registrada no clipe que, dirigido pelo próprio Pirikito, centraliza um protagonista romântico em meio a um universo nublado e dessaturado no qual sempre há sombras pairando. É um trabalho de concepção clara e comparativamente soturno que pode causar estranhamento nos ouvintes mais casuais, mas denota uma voz artística de ambições mais substanciais.

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QUINTA NO BAIRRO (Dan Abranches ft. Fabiô, 2022)

Single mais recente do ótimo Dan Abranches, este Quinta no Bairro surge como mais uma prova do domínio admirável de seu autor sobre sua linguagem musical (estruturada a partir duma mistura de R&B e hip-hop com uma miríade de infusões adicionais), abrindo espaço também para mais uma colaboração (aqui na voz e interpretação cirúrgica de Fabiô) e se consolidando com uma valiosa adição ao seu crescente acervo de registros.

Fundamentalmente um desabafo que gradativamente se converte em um mantra de auto-aceitação – que, inclusive, pode ser interpretado como a aceitação da própria condição enquanto artista – este registro imediatamente chama a atenção por seu senso de urgência, construção irretocável e refrão altamente aderente, resultando num trabalho de solidez e clareza invejáveis.

Acompanhado de um visualizer dirigido por Flora Fiorio que cria uma representação visual clara da brisa mental evocada em sua letra, Quinta no Bairro reitera de maneira contundente o talento substancial de seu autor e serve como mais um capítulo em sua trajetória rumo à condição de autor e figura mais referencial no atual panorama musical do estado.

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PELA CIDADE (A Transe ft. Ana Muller, 2022)

Uma das faixas mais inusitadas e bem-vindas a serem resenhadas pela edição do Cydonia neste ano, esta primeira colaboração d’A Transe com a fenomenal Ana Muller se mostra tão acertada e bem-desenhada que automaticamente levanta um questionamento bem simples: “Como ninguém pensou nisso antes?”

Promovendo um encontro criativo rico e empolgante por definição, esta Pela Cidade traz a crueza emotiva de Muller para a paisagem sonora caleidoscópica d’A Transe no intuito de materializar uma canção altamente confessional e reflexiva sobre transitoriedade que se enquadra perfeitamente no universo simbólico e musical de ambas. E é interessante notar como o otimismo latente contido na letra (composta pelo casal ao lado de Flora Miguel) não apenas reitera as sensibilidades líricas de seus autores, como também avançam tematicamente dentro de seus respectivos trabalhos.

Acompanhado de um clipe altamente estilizado dirigido por Tati Rabelo e Rodrigo Linhales com ecos fortíssimos de Demônio de Néon para reiterar a subjetividade e o “pesadelo urbano” evocados na faixa, Pela Cidade é um trabalho surpreendente que não apenas amplia o escopo de seu time criativo, como serve como um registro pontual e contundente dum contexto humano marcado pela instabilidade e pelo auto-questionamento. Vale a pena conferir. 

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ROUQUIDÃO (Chorou Bebel ft. Duarte, 2022)

Lançamento mais recente do ótimo Chorou Bebel, este novo single dá continuidade ao trabalho de miscigenação estética estabelecido pelo trio capixaba ao mesmo passo em que dá um passo à frente em seu prisma temático, se revelando seu trabalho mais solene e sensível até então.

Faixa integrante do primeiro disco do trio e primeiro registro a trazer uma participação especial (o fascinante Duarte, que aqui realiza uma interpretação pristina), esta Rouquidão abraça a estética do samba pop para registrar toda a mistura de resignação e reflexão vinda do término dum relacionamento amoroso (um “estado de suspensão emocional”, assim por se dizer) com maturidade e alma. Contrastando uma sonoridade leve e repleta de doçura com uma carga emocional densa por definição, a faixa consegue a proeza de se situar habilmente na fronteira entre a melancolia e a esperança, resultando numa experiência sonora tocante e altamente evocativa.

Vale ressaltar que este equilíbrio é devidamente registrado no clipe dirigido pela inigualável Melina Furlan, o qual registra plasticamente o espírito da canção de maneira impecável. Empregando imagens que surgem prosaicas e oníricas em medidas equivalentes, o clipe reforça o caráter etéreo dessa experiência de separação por meio dum profundo senso de intimidade. É um trabalho coeso e extremamente emotivo que, feito com evidente zelo, mostra o coração gigante que acompanha o talento inegável de seus autores. Indicação obrigatória.

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CORAÇÃO TATUADO (Luiza Dutra, 2022)

Desde que entrou no radar por meio de sua participação no The Voice Brasil, a cantora e compositora Luiza Dutra vem trilhando um caminho sólido na construção de uma identidade artística por meio de suas interpretações e colaborações (vide sua ótima participação na faixa Foolish, de Dan Abranches), sendo reconhecida como uma das grandes revelações a despontarem no circuito musical capixaba ao longo dos últimos anos (vide sua vitória na categoria do primeiro Prêmio da Música Capixaba). Agora, a cantora e compositora inaugura seu projeto autoral com um cartão de visitas magnético e reconfortante na forma do ótimo single Coração Tatuado.

Produzida por Jackson Pinheiro, a faixa de estréia da carreira-solo de Dutra mescla Samba e MPB dentro duma estética despojada para trazer uma declaração emocional de ares popescos que esbanja carisma e sofisticação. Com um arranjo enxuto e cuidadosamente elaborado a serviço da voz suave e repleta de vivacidade de sua autora, esta track consegue cumprir a tripla função de soar equilibradamente reverente, revigorante e ressonante, resultando numa obra cativante e viciante que convida o ouvinte a repetidas audições com classe e elegância insuspeitas.

Trazendo a reboque um ótimo clipe dirigido por Flora Fiorio que registra a mistura de expressividade e graciosidade de Dutra com um senso de leveza edificante, Coração Tatuado é um trabalho altamente competente e carismático que não apenas reitera o potencial da musicista, como comprova seu talento de forma contundente e figura como um poderoso trabalho de apresentação que indica frutos promissores à frente.

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10 de agosto de 2022

5 SINGLES #11

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