Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais nomes de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Retomando as atividades nesta frente do site depois de cinco longos anos, vamos à décima sétima edição:
Um dos projetos mais intrigantes a surgirem em nosso radar no período pós-pandêmico, o grupo Bufo Borealis é dono de uma sonoridade difícil de ser resumida em poucas palavras. Trazendo uma tapeçaria sonora calcada em passagens extremamente elaboradas que se revelam consistentemente disquietantes (vide Fênix Hesitante), o sexteto de jazz funk idealizado pelo baixista Juninho Sangiorgio (Amigos Invisíveis) e pelo baterista Rodrigo Saldanha (Ratos de Porão) emprega uma vasta gama de referências e um senso chocante de desprendimento estético para construir faixas dinâmicas e expansivas que, contrastando crueza com sofisticação, não soam nada menos que hipnóticas.
Se distinguindo categoricamente dentre seus pares por conta duma forte energia rocker (fruto do background de seus idealizadores) e contando com três excelentes álbuns em sua discografia (Pupilas Horizontais, Diptera e Natureza), assim como um EP (Argila) e um ao vivo (gravado no Sesc Pompeia), Bufo Borealis é o tipo de projeto que consegue transpor a barreira do instrumental e alcançar um equilíbrio delicado entre autenticidade e acessibilidade, recorrentemente causando fortes impressões e remetendo aos melhores exemplares do gênero no país (vide Som Imaginário, Kalouv e Hurtmold). Fortemente indicado para quem deseja conhecer um som denso e profundamente envolvente.
Nome que surgiu em nosso radar de maneira casual há alguns anos e, desde então, ocupa um espaço cativo na mente deste que vos fala, o Def é um grupo de carisma e energia cativantes. Evidenciado a partir da segunda metade dos anos 2010, o quarteto liderado por Deb Ferreira emprega uma fusão matadora de garage, emo e math rock para imergir o ouvinte em canções altamente confessionais que se estruturam a partir de uma forte contraposição de elementos. Trazendo letras evocativas e vocais suaves que se desdobram sobre andamentos ágeis, linhas de guitarra altamente elaboradas e seções rítmicas frenéticas, o trabalho do grupo carioca poderia facilmente soar desconjuntado, não fosse um senso inequívoco de verdade emocional que amarra a delicadeza lírica e vocal de Ferreira à voracidade dos arranjos com fluidez impressionante (vide Alarmes de Incêndio e Dissolvendo).
Tendo um disco e um EP no currículo que, juntos, formam a obra Sobre os Prédios Que Derrubei Tentando Salvar o Dia, o Def é um grupo que se distingue pelo caráter resoluto de seu trabalho altamente contrastante e irrestritamente sentimental, o qual entrega volumes de vulnerabilidade em meio a bombardeios sonoros. Juntando crueza e solenidade de maneira instigante e honesta, o quarteto surge aqui como uma recomendação para aqueles que desejam conhecer uma banda de vivacidade insuspeita que também pode ser descrita como a materialização do conceito de “melancolia furiosa”.
Parte da fantástica leva de talentos surgidos no Espírito Santo nos idos dos anos 2010, o cantor, compositor e produtor musical Dan Abranches figura como um de seus exemplares mais consistentes em proposta estética e na qualidade da sua produção ao longo do tempo. Dono de uma sonoridade multifacetada que ocupa uma zona de intersecção entre o R&B, o Soul e a MPB com uso ostensivo de elementos da música eletrônica, Abranches emprega sua voz potente, lirismo e vasta gama de influências em prol de uma abordagem criativa que hibridiza elementos a partir de uma perspectiva altamente calculada, resultando em um trabalho compassado e envolvente que se desenvolve sem urgência e frequentemente impressiona pela precisão e sofisticação.
Tendo um histórico marcado por passagens notáveis e uma discografia que traz um grupo de registros homogeneamente eficazes – incluindo os álbuns Titan e Agridoce, os EPs Ruby e Flor de Laranjeira e colaborações com figuras como Gabriela Brown, GAVI, Fabiô e Luiza Dutra – Dan é um artista discreto cujo trabalho se desenvolve num ritmo parcimonioso e que oferece uma experiência altamente gratificante para aqueles que se dão o tempo de reparar nas texturas construídas. Recomendado para aqueles que desejam um som viajandão bem elegante pra ouvir em qualquer contexto.
Desde que deu as caras no circuito independente no final dos anos 2000 como vocalista da magnífica Jennifer Lo-Fi, a cantora e compositora Sabine Holler recorrentemente tem dado sinais categóricos duma sensibilidade musical muito particular e de uma versatilidade insuspeita. Dona de um currículo invejável que inclui uma miríade de iniciativas paralelas (vide a ótima Mawn e a hiper subestimada Fragile Arm) e participações pontuais em registros de projetos tão díspares quanto Ema Stoned, Mines Fall e Songs We’re Sung, Holler constantemente emprega um misto bem singular de sutileza e visceralidade para estabelecer uma sonoridade híbrida e fortemente calcada no experimentalismo que explora temáticas identitárias em profundidade com uma forte carga emocional que é constantemente registrada em sua voz, a qual oscila de maneira dinâmica entre o comedimento e a catarse irrefreada.
Atualmente radicada em Berlim, Holler recentemente lançou dois ótimos discos solo (Mother of Invention e Turning Into Myself) que expandem seu universo sonoro de maneira altamente sofisticada e a consolidam como uma das figuras mais prolíficas e discretamente pungentes a decolarem do rico cenário paulistano nas últimas duas décadas, ocupando um lugar único dentre seus pares (imagine algo entre Björk, Portishead e os transes ocasionais do Mars Volta). Uma das figuras mais citadas neste que site que retorna como recomendação obrigatória para aqueles que desejam conhecer uma artista de trabalho complexo e imersivo, mas inegavelmente magnético.
Diante da infindável discussão sobre os caminhos da Música Brasileira no Século XXI e das inúmeras hipérboles que surgem a reboque, o exercício de qualificação da colossal gama de projetos musicais existentes a partir de nomenclaturas superlativas se torna um esforço não apenas fadado ao equívoco, mas fundamentalmente supérfluo. Porém, se há um grupo que surge como forte candidato ao posto de exemplo irrefutável da qualidade do rock brasileiro atual, esse grupo é o Maglore.
Fundado em 2009 na cidade de Salvador, o Maglore passou as últimas duas décadas construindo uma trajetória tão fascinante quanto sua sonoridade: Mesclando fortes elementos de indie, rock psicodélico e MPB, o quarteto encabeçado por Teago Oliveira passou por um verdadeiro processo de crescimento ao longo de sua história, realizando transições estilísticas gradativas e amadurecendo sua musicalidade a partir de um fio condutor – o encontro entre a influência e a estética gringa (vide Wilco e Beatles), a tradição da canção brasileira (vide Caetano) e a incorporação calculada de elementos musicais regionais – em meio a substanciais mudanças de formação e formato, construindo uma legião substancial (e crescente) de fãs no processo.
Conseguindo o feito raro de aprimorar sua sonoridade a cada novo registro – tornando-a mais complexa em arranjos, letras e texturas – ao mesmo passo em que a torna cada vez mais radiofônica, o grupo soteropolitano é dono de uma discografia invejável (vide os magníficos III e V) que não apenas registra seu arco evolutivo com nitidez, como figura como uma das melhores sequências de lançamentos feitos por uma banda nos últimos anos. Unindo aprumo e acessibilidade a um valor de entretenimento absurdo, o Maglore é uma recomendação obrigatória para todos aqueles que curtem música.
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