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5 SINGLES #9

 

A série 5 SINGLES é uma forma de apresentar ao público algumas faixas lançadas que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Iniciando o ano de 2022 no site, vamos à nona edição:

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CICLOS (Novelo, 2021)

Single que inaugura o trabalho-solo do cantor e compositor Novelo, esta Ciclos surge como um exercício notável de expressividade e melancolia que dá sinais claros duma voz artística e dum espírito poético altamente introspectivo num pacote que atrai por sua mistura clara de verdade emocional e coesão.

Surgindo como uma mistura de confissão intensamente apaixonada e auto-questionamento desnudante, esta canção automaticamente chama a atenção por sua natureza singela e carinhosa, a qual se contrapõe às nuances mais ásperas das inquirições contidas em sua letra com classe e um senso de melancolia que expressa volumes colossais de cuidado e bem-querer.


Seguido por um clipe fascinante que, dirigido por Gabriel Hand, transpõe a carga emocional e reflexiva da faixa para a tela com uma beleza plástica admirável e milimetricamente bem-concebida, Ciclos é uma faixa de estreia admirável em sua contundência e resolução, indicando um caminho promissor para seu autor. Vale conferir e esperar o que Novelo revelará a seguir.



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CHOREY (A Transe feat. BORABAEZ, 2021)

Uma das canções mais discretamente revigorantes lançadas no ano passado, esta Chorey dá continuidade à exploração temática d’A Transe em torno de temas que dialogam com presença espiritual, sensorialidade, conexão com a natureza e a experiência metafísica da vida em meio a uma estética sonora rica e altamente colorida (ou Transcendentalismo Tropical, como gosto de chamar.)


Contando com a presença da ótima BORABAEZ, este single chama a atenção por sua suavidade e caráter mântrico, trazendo as quatro vozes se intercalando de maneira deleitante (particularmente as de Francesca Pera e Karola Balves) ao mesmo passo em que são amparadas pela base percussiva de Henrique Paoli. É uma combinação elementar, mas extremamente eficaz em seu impacto.


Acompanhado de um clipe elegantérrimo realizado por Tati Rabelo e Rodrigo Linhales que contrapõe o quarteto de músicos com a imensidão das paisagens naturais (e kudos para as imagens de drone de Diogo Buloto), Chorey é um trabalho hipnótico que encontra na simplicidade e na repetição a forma ideal de imergir o espectador e trazer um conforto insuspeito, representando um ótimo acerto para seus autores. Vale entrar nessa onda e passar um bom tempo nela.



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CORNÉLIOS (Gastação Infinita, 2021)

De modo geral, é possível dizer que este Cornélios é o single que traduz categoricamente a proposta musical da instigante Gastação Infinita: Uma mistura de lo-fi (no sentido bom), referências, psicodelia e dinamismo que serve como um truque de prestidigitação para opacar a percepção do ouvinte acerca do vasto arcabouço musical e da sensibilidade patente que norteia o trabalho do quinteto capixaba.


Fundamentalmente uma doída reflexão sobre decepção amorosa e o luto resultante desta (como o próprio nome sugere), a faixa (que traz fortes ecos de Los Hermanos) transcorre de maneira valseada em meio a um arranjo elaborado e diversas camadas sonoras, sugerindo uma leveza (ou até conformismo) que mascara a dureza da letra até culminar em seu refrão confessional aos dois minutos de duração.


E é aqui que Cornélios mostra sua verdadeira natureza e revela a inventividade sentimental de seus autores, os quais recorrentemente empregam um senso de cacofonia para expressar emoções complexas de maneira discreta. É um caos ordenado que serve para revelar de maneiras surpreendentes que o Gastação Infinita é um conjunto intimamente baseado não na experiência vocabular da Música, mas na emocional.


Vale ressaltar que esta percepção encontra ecos na coda da faixa (que remete à ideia de ter algo a dizer para além do silêncio), servindo para configurar este lançamento como um trabalho que, soturno e dinâmico, indica caminhos muito interessantes para o grupo ao mesmo passo em que pontua seu senso de autenticidade. Vale a pena conferir.



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SERÁ QUE VOCÊ SENTE? (Bernardo John, 2021)

Como citado anteriormente em nossas matérias sobre os ótimos Passa Raiar e Tropeçar, o cantor, compositor e multi-instrumentista Bernardo John recorrentemente surpreende o ouvinte ao contrapor sua persona irreverente e despojada com uma sensibilidade peculiar e uma doçura inequívoca que se materializam habilmente em seu trabalho-solo.


E é exatamente isso que acontece mais uma vez com Será Que Você Sente?, balada que não apenas reitera suas maiores potencialidades como autor, como também expressa sua visão de mundo e sua admiração pela beleza do prosaico de maneira cativante.


Retomando o folk como campo estético para continuar sua exploração de temas como identidade e relacionamentos, John aqui abraça o encantamento afetivo como base desta sua canção, conseguindo registrar uma sensação de maneira admiravelmente precisa. E é fascinante notar como as descrições sensoriais trazidas na letra acabam conferindo um senso de universalidade à sua reflexão, em vez do contrário.


Trazendo a reboque um clipe realizado por John ao lado de Pedro Faria e Everton Radaell que ilustra perfeitamente a percepção edificante (ou “magia”, para ser piegas) que tal encantamento causa, Será Que Você Sente? é um trabalho singelo e adorável que cativa justamente por sua mistura de delicadeza e otimismo latente. E, num mundo como o que vivemos, precisamos cada vez mais de canções assim.



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COMIDA CASEIRA (A SAUDADE) (GAVI, 2020)

Parte da vasta leva de canções lançadas no contexto nefasto da pandemia Covid-19, esta Comida Caseira (A Saudade) desponta em meio a seus pares como um dos exemplares mais profundamente densos e tocantes a cruzar o caminho da nossa editoria no último ano, representando também um dos melhores registros já produzidos por sua autora.


Concebida ao lado de Isabela Falchetto como uma homenagem por parte da talentosa GAVI a um ente querido que veio a falecer durante a quarentena, esta canção automaticamente arrebata o ouvinte pela forma com que simultaneamente se mostra um potente movimento de assimilação do luto, uma belíssima declaração de amor e uma reflexão inegavelmente contundente sobre o que realmente importa nessa vida.


Se distinguindo estilisticamente das demais obras da cantora e compositora ao trazer uma paisagem sonora solene e comedida, a faixa emociona pelos volumes titânicos de afeto, intimidade e pathos que expressa em cada um de seus versos e na visceralidade da voz de Gavi (assim como nos elegantes backing vocals de Jana Celeste), trazendo a reboque um ótimo trabalho de violão do ótimo Paulo Fagundes (membro central da fenomenal Camarilo).


Amparada por um clipe altamente evocativo que, dirigido por Gabriel Hand, expressa toda a carga emocional da faixa de maneira direta e desafetada (há um plano aos 3 minutos que causa um nó na garganta pela crueza), Comida Caseira (A Saudade) é uma obra de alma titânica, honestidade irrestrita e sensibilidade imensurável que remete diretamente ao gut punch de canções como Conversa de Botas Batidas (e este é um dos maiores elogios que posso fazer a qualquer obra musical). Vale a pena ouvir e se emocionar no repeat.



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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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