Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais grupos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras no nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à terceira edição:
Mais um grupo dissonantemente genial a marcar presença nas páginas do Cydonia, o Catavento figura ao lado do Hierofante Púrpura como um daqueles raros conjuntos que compreendem e desenvolvem bem o conceito de “caos ordenado” na Música. Realizando uma grande salada mista de Grunge, Lo-Fi, Noise e Psicodelia, o quinteto gaúcho mescla efeitos, texturas e timbres na construção duma sonoridade que se equilibra entre a precisão e uma crueza agressiva sob o pano de fundo duma estética bem noventista.
Tendo dois registros em seu histórico (o potente Lost Youth Against the Rush e um bootleg ao vivo) e uma apresentação tão caótica quanto o próprio som (tentem procurar a banda no Facebook e entenderão o que digo), o Catavento é um grupo sem firulas e sem encheção de linguiça que merece ser conferido por todos aqueles que curtem um rock n’ roll abrangente, duro e bem-alinhado.
Cada vez mais reconhecido e cultuado pela potência de sua sonoridade, pela elegância de sua construção harmônica e pela presença marcante de seus membros em diversos projetos nacionais de destaque, o Ventre é um grupo especial por definição. Com uma proposta relativamente simples que pode ser descrita (BEM superficialmente) como uma mistura concisa de Rock Psicodélico e experimentalismo com ecos de MPB, o trio carioca atrai e impressiona pela visceralidade que imprime a cada uma de suas canções, por seu senso inequívoco de pathos e pela química resultante do contraste entre a intensidade discreta de Gabriel Ventura, a sensibilidade precisa de Hugo Noguchi e a força da natureza que é Larissa Conforto.
Com uma trajetória marcada por uma rápida ascensão desde seu surgimento, um ótimo disco de estreia na bagagem e uma série crescente de apresentações vigorosas e brutalmente energéticas, o trio merece notoriedade por sua entrega sem reservas e pela forma admirável com que faz um trabalho simultaneamente contemplativo e expurgante, se distanciando de qualquer comparação ou atribuição derivativa no processo. Indicado para todos que desejam conhecer um som que mescla melancolia, expressividade e bom-gosto de maneira singular.
Falar que Samira Winter é uma figura talentosa e cativante não é apenas um clichê, mas também um senhor eufemismo. Dona de uma postura espirituosa, composições evocativas e de um carisma inegável, a musicista curitibana radicada em Los Angeles calca seu trabalho numa fusão inusitada e bem-arranjada de Indie Rock e Dream Pop com ecos de Noise e Post-Rock (imagine uma mistura de The Postal Service, Jesus & Mary Chain e Céu que terá uma ideia relativamente próxima), conseguindo a proeza de soar constantemente reconfortante e agradavelmente familiar com uma naturalidade impressionante.
Tendo rodado ostensivamente por circuitos nacionais e internacionais, a cantora tem seu repertório marcado pelo lançamento de singles e compactos pontuais (incluindo os EPs Tudo Azul e Daydreaming) mais dois discos (o edificante Supreme Blue Dream e o ótimo Ethereality), merecendo ser conferida pela forma fluida e consistente com que traz uma bem-vinda leveza ao universo da psicodelia nacional.
Um dos nomes mais expressivos da onda neo-psicodélica que vem ganhando força no país ao longo dos últimos anos, o Supercordas também pode ser visto como um de seus exemplar mais autênticos e audaciosos. Na ativa há quase duas décadas e dono de um currículo expressivo (que traz os excelentes A Mágica Deriva dos Elefantes e Terceira Terra, entre outros), o quarteto paulista se destaca entre seus pares com uma abordagem dinâmica e tematicamente ambiciosa, a qual mescla uma verve sessentista com a crueza do Rock n’ Roll e subtextos sociais numa mistura que resulta em uma sonoridade rica, marcante e admiravelmente bem-resolvida.
Merecendo créditos pelo apuro incontestável presente em seus registros e pela forma vigorosa com que se distancia de certas convenções que permeiam o Rock Psicodélico no contexto pós-Tame Impala e Pond, o grupo é uma recomendação para todos aqueles que desejam ouvir uma sonoridade capaz de entortar a cabeça com uma mistura sólida de peso, arranjos elaborados e uma dose cavalar de cinismo patente.
Outro projeto que vem crescendo gradativamente em visibilidade e renome no circuito independente nacional (e internacional), o My Magical Glowing Lens é um daqueles exemplares cuja inclusão neste tipo de lista quase soa óbvia demais. Mas o fato é que o projeto da musicista Gabriela Deptulski realmente merece ser visto como uma das investidas musicais mais interessantes e promissoras a brotarem no circuito independente nos últimos anos por conta da sua sonoridade esparsa, densa e repleta de texturas (imagine uma obra psicodélica de Terrence Malick em áudio). Além disso, o MMGL também merece créditos pela forma com que assume riscos ao não se privar de soar circunstancialmente intransponível e se distingue ao desenvolver uma narrativa sonora caleidoscópica que se revela imersiva e entorpecente em medidas equivalentes.
Com um currículo marcado por dois registros contundentes (o epônimo EP de estreia e o álbum Cosmos) e uma formação rotativa que mantém apenas sua criadora como constante absoluta, o MMGL é o tipo de projeto que desperta a admiração pela inventividade e pela forma com que constantemente desafia o ouvinte a atravessar suas espessas camadas de introspecção e dissociação no intuito de comunicar algo genuinamente humano e profundo. Obrigatório para todos aqueles que desejam ouvir um som estranhamente visceral, deliberadamente digressivo e corajosamente destituído de amarras.
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