Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais trabalhos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre lançamentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à décima edição:
Sucessor do instigante Pure Places EP, o disco mais recente do Kid Foguete é um trabalho curioso: Trazendo o quinteto paulista numa fase de maior densidade lírica, temática e estética, A Brief Study On How To Fail Completely Vol.1 atrai a atenção pela forma deliberada com que desafia o ouvinte a transpor suas camadas de melancolia (e seu senso de solidão) por meio de uma sonoridade persistentemente carregada e pulsante. O resultado final é uma obra de condições específicas que pode, por vezes, soar intransponível, mas traz uma série de recompensas para aqueles que se dispõem a percorrer sua meia-hora de caminho sinuoso (vide Looking For The Right Thing (In The Wrong Places), Walls e Bound). Recomendado para os fãs de Emo, Noise e Shoegaze que não se importam de descobrirem um disco ao longo de repetidas audições
Disco de estreia do quarteto friburguense Hell Oh, este We’ve Got Nothing To Say But a Song serve tanto como uma versão compilada e estendida de seus primeiros dois compactos (o epônimo Hell Oh! e Stop Grinding My Gears Because I’m Busy Creating The Future) quanto uma prova da capacidade do conjunto em desenvolver um rock n’ roll sólido, moderno e repleto de vivacidade. Contendo doze faixas, o disco é direto ao apresentar a mescla de Garage Rock, Indie e Stoner do Hell Oh sem firulas, soando ocasionalmente repetitivo e derivativo (há alusões nítidas a sonoridades como a do Arctic Monkeys e grupos similares, especialmente em Where Are You Going To? e Flag), mas conseguindo atestar o potencial e a pressão sonora de seus autores com categoria. Beneficiado por um clima de empolgação constante, pelo acabamento caprichoso e por um bocado de tracks divertidamente pegajosas (vide a nervosa Mercury, Shake Up e a ótima Empty Speech, que traz a participação de Emmily Barreto do Far From Alaska), WGNTSBAS é um trabalho reto e de qualidade que cumpre sua função sem desvios e merece créditos por isso. Vale a pena conferir.
Um dos trabalhos mais inusitados e magnéticos a serem lançados em 2014, o segundo registro da ótima The Soundscapes pode ser definido em todos os aspectos como um dos melhores representantes do conceito de good vibes do último ano. Trazendo o grupo dos irmãos Raphael e Rodrigo Carvalho de volta aos holofotes da cena independente, esse novo compacto contém cinco canções que se revelam nostálgicas e edificantes em medidas iguais. Com uma estética noventista e uma bem-vinda retidão em sua abordagem (imagine uma união entre o primo shoegazer dos Beach Boys e Jesus & Mary Chain), esse novo trabalho se mostra admiravelmente consistente do início ao fim (e, apesar de todas as faixas merecerem crédito, deve-se frisar Shooting Stars e Shine on Us como favoritas) e comprova que não são necessárias grandes invencionices para se apresentar uma sonoridade rica e repleta de finesse. Fortemente indicado para todos aqueles que desejam relaxar com um sonzeira de qualidade em qualquer tipo de situação.
Terceiro disco do FireFriend a figurar nesta série, Negative Sun é, de longe, o álbum mais sombrio e denso lançado pelo über prolífico grupo paulistano até então. Concebido a partir de uma nova formação e de uma abordagem minimalista, este novo registro surge como um passeio lisérgico num mundo em estado de putrefação (imagine o universo de Taxi Driver transformado em sons), imbuindo seus notáveis 63 minutos de duração com um senso de desolação que se revela tanto marcante quanto incômodo. Mesclando passagens que soam como trilha sonora de um pesadelo lúcido (If You Kill The Man, Bitter Juice e a faixa-título) com momentos estranhamente reconfortantes (Trip is Love, Orange and Blue e a sedutora Abstract Painting), o disco se mostra um composto coeso e multifacetado que ainda absorve as faixas do ótimo Strange Feelings EP com naturalidade e fluidez. Pode não ser um disco de fácil deglutição ou compreensão, mas seu caráter centrado e audacioso o configuram como mais uma ótima adição no currículo de seus admiráveis autores e uma recomendação obrigatória para fãs do gênero.
Se há um grupo capixaba recente que chama a atenção pela mistura de proposta, potência e paixão, esse grupo é o Muddy Brothers. Dono de uma sonoridade que mistura Blues Rock, Psicodelia e Heavy Metal dentro duma estética setentista, o grupo alcançou um ponto de maturidade soturna pouco mais de três anos desde seu surgimento com seu trabalho mais lânguido e imersivo até então, Facing the Sky (Backwards). Novamente auto-produzido seguindo a abordagem DIY que já se tornou uma de suas características preponderantes, este novo registro soa mais como uma progressão natural do caminho iniciado por seus predecessores que uma mudança de rumo, configurando este álbum como uma demonstração de amadurecimento por parte do trio e um passo à frente no refinamento de uma identidade artística.
Trazendo onze faixas carregadas na duração e no espírito Acid Rock, o disco também se diferencia pelo tom consideravelmente mais denso e pelo grande arco lisérgico que forma ao longo de seus quase 50 minutos, resultando num álbum repleto de momentos que soam como uma mistura inspirada de Pink Floyd e Black Sabbath. Além disso, o caráter experimental do LP é atestado pela exploração de novos instrumentos, texturas, timbres e quebras no padrão (vide as instrumentais Adrenochrome, You’re Too Kind e a ruidosa Dust Devil), servindo também como um retrato dum grupo de artistas que está testando os limites da própria fórmula e da configuração vigente. Também servindo como mais uma demonstração da química invejável de seus membros, o disco reforça as percepções deixadas anteriormente em relação às habilidades individuais de seus autores ao mesmo passo em que deixa clara a evolução musical destes. Ainda assim, é interessante perceber como que as dinâmicas fluidas aqui apresentadas (Stars Weren’t Meant To be Young e Ocean Streams) e as “gastações” jamais gratuitas aqui contidas reiteram o nível de compreensão e cumplicidade alcançado pelo trio (The Sun of Things Inside Me).
Pesado por definição e repleto de pequenas surpresas que podem subverter as expectativas daqueles que esperam um trabalho excessivamente viajandão ou introspectivo (Dancing in the Light e Our Floating Home servem como bons contrapontos), Facing the Sky (Backwards) pode não ser tão dinâmico quanto Handmade ou variado quanto o Seasick EP, mas certamente pode ser considerado um lançamento expressivo por representar o ponto em que o Muddy Brothers deu um salto para fora de sua zona de conforto.
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