Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais trabalhos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre lançamentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Retomando a série depois de mais de um ano e revelando o novo layout, vamos à sétima edição:
Álbum de estreia da dupla capixaba A Transe, este Hora Dourada é uma bela introdução ao universo musical e simbólico do projeto formado pelo casal Carla Francesca e Fernando Zorzal. Produzido pelo duo ao lado de Gabriela Terra (My Magical Glowing Lens) e gravado dentro do ethos DIY, o disco emprega suas sete faixas para apresentar e ilustrar com nitidez uma sonoridade caleidoscópica que une MPB, Tropical Folk e Psicodelia num pacote pungente, expansivo e extremamente bem-amarrado. Trazendo uma miríade de letras imediatamente tonificantes que exalam otimismo em meio a reflexões identitárias de ares transcendentais (vide Greta, single de trabalho e faixa de abertura), este LP automaticamente chama a atenção tanto por seus aspectos conceituais e proposta diferenciada quanto por seu espírito alegre e da afabilidade irresistível.
Repleto de passagens radiofônicas que, apesar de substancialmente distintas entre si, compartilham dum mesmo joie de vivre (vide Papo de Lelé e Dançar) e realizado a partir da colaboração com uma miríade de parceiros (que inclui André Prando, Henrique Paoli e Luiz Gabriel Lopes), Hora Dourada é um trabalho cativante que não apenas cumpre seu propósito com eficiência e autenticidade, como merece crédito adicional por se propor a elevar o espírito do ouvinte sem a menor ressalva (vide a encantadora Floresceu, feita ao lado de GAVI). Vale a pena conferir.
Continuação do compacto de estreia do quarteto carioca Def, o inesperado Sobre os Prédios Que Derrubei Tentando Salvar o Dia (Parte 2) não apenas expande o escopo da sonoridade da banda como consegue a proeza de se assimilar de forma virtualmente imperceptível ao seu predecessor, preservando o senso de visceralidade previamente estabelecido num movimento evolutivo que merece crédito por si só. Lançada três anos após a Parte 1 e contendo o dobro de faixas (configurando-a como um álbum), esta Parte 2 retoma o post-rock noventista da Def com o mesmo vigor dissonante visto anteriormente sem perder um segundo para mostrar a que veio, resultando num trabalho de crueza, honestidade e voracidade notáveis.
Mesclando um instrumental elaborado e persistentemente inquieto (vide a ótima Alarmes de Incêndio, Nada e a instigante Abutre), letras angustiadas e os vocais contrastantemente monocórdios de Deborah F. para criar uma sensação bem estranha e particular de conturbação harmoniosa (vide A Cidade Onde Apenas Eu Não Existo, a melhor do disco), SPDTSD-P2 (taí um título complicado de transformar em acrônimo) ainda cria espaço pra explorar cantos novos na musicalidade da banda (vide Casa (Paulo) e Arranha Céu), representando também um avanço em meio a toda sua tarefa já complexa por natureza. Disco potente que não apenas faz jus ao capítulo anterior como prossegue sua reputação de recomendação obrigatória para fãs de sonoridades que vão direto ao ponto com honestidade e sem sombra de hesitação.
Primeiro EP da cantora e compositora Lua MacLaine, este compacto é exatamente o que um bom registro introdutório deveria ser: Conciso, contundente e contendo sinais cristalinos da proposta sonora atrelada ao mesmo passo em que dá fortes indícios dum universo simbólico mais amplo, Conversa De Um Só é um cartão de visitas de charme e consistência inegáveis. Produzido pela musicista ao lado de Jackson Pinheiro (SILVA, André Prando, Supercombo) e trazendo uma estética fortemente calcada no Folk contemporâneo (ressoando alguns de seus melhores exemplares, como Lisa Hannigan, Beirut e Glen Hansard), este EP encontra na sobriedade e na coesão uma forma de dar vazão à expressividade de MacLaine, cuja voz marcante e repleta de nuance se complementa de forma contundente com suas letras profundamente confessionais.
Contendo quatro faixas que impactam pela mistura de doçura e resignação que trazem em meio a arranjos acertadamente enxutos e tendo o plano das relações afetivas como eixo temático, o compacto também merece crédito pela diversidade que apresenta em sua curta duração, transitando entre instantes de fossa solene (a faixa de abertura, Miss You), elaboração (a valsesca faixa-título), reflexão catártica (a energética Egoísta) e rediagramação (a bela Silence) com fluidez num micro-arco narrativo de precisão impressionante. Trabalho elegante e de simpatia insuspeita que não apenas capta os ouvidos como serve como um ótimo indício do que podemos esperar da musicista capixaba.
Adição mais recente à vasta discografia da sensacional FireFriend, este Avalanche figura também como seu registro mais compassado e sutil, representando o trabalho mais sui generis e estranhamente maduro do projeto capitaneado por Yury Hermuche e Julia Grassetti até então por conta da suavidade e do senso de paciência empregados em sua concepção. Trazendo doze faixas que se desenvolvem ao longo de inacreditáveis 72 minutos (os quais transcorrem muito mais rápido que o imaginado), o disco é um vagaroso exercício de imersão que gradativamente captura o ouvinte, transportando-o para um mindset bem específico por meio duma sequência de paisagens sonoras que se mostram alentadoras e dissociativas em medidas equivalentes.
Com uma abordagem estética que recorrentemente prioriza arranjos lânguidos e minimalistas em contraste com a bombarda de saturação sonora costumeira, este novo LP já mostra seu diferencial desde sua faixa de abertura (a viajandona Zoey Speaks) para então conciliar momentos de profunda introspecção (vide Alone in the Dark, Love Seems Distorted, Transients Welcome, Electric Moon Revisited e Dissatisfaction) com os descarregos característicos de seus autores (a ótima Death Star, Inc., Who’s Gone What’s Missing e a faixa-título) de maneira altamente diegética, conseguindo adentrar novo campo ao mesmo tempo em que resgata as marcas registradas do grupo paulistano com a competência habitual. Disco recomendado para aqueles que não têm medo de encarar um som viajandão centrado em timbres pouco ortodoxos e de densidade insuspeita.
Terceiro disco do genial Lucas Arruda (o qual provavelmente é um alienígena, dado seu substancial talento musical), este novo disco do multi-instrumentista guaçuiense fecha uma trinca de registros que pode ser informalmente vista como uma “trilogia das good vibes sonoras” iniciada com o pulsante Sambadi e continuada com o edificante Solar até culminar neste excelente Onda Nova. Retomando a mistura de Pop, Soul, Funk, R&B e MPB que caracteriza o trabalho solo de seu autor (o qual tem um vasto histórico de participações em projetos como Aurora Gordon e SILVA), este novo registro figura também como seu trabalho mais assumidamente despojado e reverente.
Trazendo nove faixas (tecnicamente oito, visto que uma se repete em duas línguas) que se mostram homogeneamente empolgantes e sofisticadas, Onda Nova imediatamente chama a atenção pelo senso de descontração que transmite ao ouvinte: De sua abertura compassada (Dragões e Tigres) até sua conclusão (a versão em português da hitzesca What I’d do for Love), o disco embala seus pouco mais de 50 minutos com uma leveza contagiante, aludindo a diversos universos sonoros (e são vários os ecos de Stevie Wonder, Ed Motta e Lincoln Olivetti) de forma hábil ao mesmo tempo em que demonstra a identidade de seu autor de forma inequívoca. E é interessante notar como que as diferentes abordagens para cada faixa se conciliam de forma uniforme (vide o contraste entre a instrumental faixa-título e a baladesca Depois do Sol), resultando numa obra rica e altamente acessível duma forma reconfortante.
Com diversas passagens que valem ser ouvidas diversas vezes no repeat (vide as viciantes Perdidos e Bobos, Soulshine e Heaven’s in Your Arms, a melhor do registro) e trazendo Arruda em mais um momento de eficácia invejável como vocalista e instrumentista, Onda Nova é um trabalho dotado dum apuro admirável que se desenvolve com dinamismo e ganha pontos adicionais pela forma despretensiosa com que entretém e inspira em medidas equivalentes. Obrigatório para todos que querem um som classudo, divertido e de qualidade inquestionável.
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