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5 SINGLES #3

 

A série 5 SINGLES estreia como uma forma de apresentar ao público algumas faixas lançadas que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à terceira edição:

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EU NÃO TE ESQUECI (Supercolisor, 2020)

Registro que prenuncia a chegada do disco Viagem ao Fim da Noite, o novo single do Supercolisor faz parte daquele grupo de baladas agridoces que, dotadas de certa leveza associada a arranjos evocativos e um senso geral de coesão, conseguem a dupla função de reconfortar e conjurar certa melancolia por conta de seus subtextos. Fundamentalmente uma mensagem esperançosa de conexão e reconciliação, Eu Não Te Esqueci encontra na voz repleta de ternura de Ian Fonseca e em sua levada compassada a forma ideal de ilustrar os volumes de solenidade alcançados pelo eu lírico diante de uma relação que ruiu, mas que não deixa de ter margem para uma eventual ressignificação.

Singelo de maneira desarmante, o single ainda é acompanhado por um excelente clipe dirigido por Lucas Striani que, esbanjando beleza plástica e sintaxe, traduz para o plano visual o espírito da canção de forma categórica por meio dos rostos expressivos de Carol Martinni e Dudu de Oliveira. É um trabalho sensível e enxuto que merece ser conferido pela classe com que foi concebido e por sua proposta inegavelmente honesta.



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TALHO (Kalouv ft. Dinho Almeida, 2020)

Primeiro lançamento do Kalouv em três anos, este novo registro do grupo pernambucano se revela uma grata surpresa pela maneira com que retoma sua sonoridade híbrida particular duma pegada altamente fluida que jamais sacrifica a acessibilidade em prol do experimentalismo ao mesmo passo em que traz elementos bizarramente acertados no processo, empalidecendo a longa espera transcorrida desde a estreia do ótimo Elã.


Novamente centrado na energia imbuída de poesia que caracteriza o trabalho de seus autores, este Talho chega de forma marcante com uma levada ágil e groovada até irromper numa transição para a parte cantada que traz não apenas um vocal, mas O vocal magnificamente preciso de Dinho Almeida (frontman da excelente Boogarins), transformando-o numa viagem de ares transcendentais e elevando a audição de forma inequívoca. O resultado final é um single que figura não apenas como um retumbante sinal de vida, mas como um dos registros mais interessantes deste conjunto fascinante, merecendo ser conferido por isso.



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QUARANTINE (Baboon Ha, 2020)

Registro integrante do compacto de estreia (Overlapping Days) do recém-estreado Baboon Ha, o single Quarantine representa não apenas um ótimo cartão de visitas para o trabalho do trio carioca (apesar de ser a quarta track de divulgação), figurando também como um dos lançamentos mais revigorantemente energéticos e estilizados disponibilizados neste período de isolamento social.

Realizado ao lado do parceiro Pedro Domicio antes do contexto da atual pandemia global, Quarantine foi reconfigurado como uma meditação sobre o ócio produtivo e como um exercício de catarse criativa. Apresentando a mistura de indie, electrorock e lo-fi (o de verdade, não a desculpa pra produções mal-feitas) que caracteriza a sonoridade de seus autores com vigor e propriedade em meio a fortes pinceladas oitentistas, este single é acompanhado dum clipe descontraído feito à distância e merece ser ouvido no repeat por conta de seu charme particular, escopo e ânimo contagiante.



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DESPEDIDA (Francisco, el Hombre, 2020)

Uma das canções mais tocantes a surgirem no universo da música brasileira durante a Era Covid-19, o single mais recente da ótima Francisco, el Hombre é um trabalho intensamente afetuoso e pessoal que reverbera de maneira insuspeita na mente e no coração do ouvinte. Originalmente concebido como mais uma adição ao crescente (e cada vez mais fascinante) repertório do grupo, o registro acabou ganhando uma nova dimensão (e contornos substancialmente mais pungentes) ao se tornar tema do desligamento de Rafael Gomes, baixista que deixara o posto após seis anos e meio na função e que tem Despedida como sua última gravação no projeto.

Embalado por uma levada discreta e jovial que contrabalanceia com delicadeza a forte carga emocional da belíssima letra, o single traz uma mensagem imensamente carinhosa e esperançosa que jamais disfarça a pontada aguda de tristeza diante da saudade iminente (registrada especialmente na voz sempre fenomenal de Ju Strassacapa). Acompanhado por um lyric video animado (feito por Leonardo Lucena) de simpatia e doçura irresistíveis, Despedida reitera a imensidão do coração e da sensibilidade do grupo, servindo também como um retumbante e profundamente amoroso “Até logo” para um irmão que agora segue seu próprio caminho. Lindíssimo.



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VENTO (Viratempo ft. ÁIYÉ, 2020)

Não são raras as ocorrências nas quais bandas e artistas realizam releituras de algumas de suas composições pelas mais distintas razões e com as mais variadas abordagens. De remixagens mais discretas a rearranjos completos, passando por adições de participações especiais e o que mais couber no caminho, a ideia de revisitar uma faixa é algo tão recorrente que beira o prosaico. No entanto, não deixa de ser impressionante quando um grupo emprega tal processo para efetivamente reinventar uma de suas obras, reestruturando sua sonoridade de modo a transformar seu universo simbólico e apresentar algo radicalmente distinto. E é exatamente isso que ocorre neste Vento, trabalho que reconceitua uma das faixas mais marcantes do grupo paulistano Viratempo de forma surpreendente e tenebrosa.

Single que inaugura a divulgação do vindouro compacto Autocura, esta versão de Vento automaticamente se revela sui generis pela forma em que abandona completamente a sonoridade folk de sua versão predecessora e investe numa estética mais próxima do trip hop (imagine algo saído diretamente do universo de Tomorrow Comes Today, do Gorillaz) numa subversão chocante, mas altamente magnética. Convertendo a carga de solenidade da original em um senso de inquietude esquizóide, esta faixa soa menos como uma resignada declaração de amor e mais como uma confissão condenada que é altamente beneficiada pela voz marcante de Larissa Conforto (ex-Ventre e Cheddars, que aqui assina como ÀIYÉ) e pelo senso de imprevisibilidade que traz (há um snippet genial na faixa que surge absolutamente do nada).

Acompanhado por um clipe cheio de ruído e dissonância dirigido por Eduardo Ohara que mescla sutileza e poesia com um senso de transgressão e brutalidade, a nova versão de Vento serve como um claro anúncio do caminho que a Viratempo passará a seguir de agora em diante e também dá sinais claros da crescente maturidade e ambição de seus autores. Afinal, não é todo mundo que tem coragem de se reinventar desta maneira. Vale muito a pena conferir.



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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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