Idealizada e dirigida pelo músico e produtor Murilo Abreu (Solana), a iniciativa tem ganhado visibilidade e crescido em renome por conta de seu valor social, seu caráter agregador e sua qualidade artística.
Iniciado em meados de 2005 em meio a um extenso processo de pesquisa, o projeto mantém a Música como fio condutor, mas também se desdobra em outras linguagens (como Literatura e Cinema), focando na redescoberta e revitalização das obras e dos ideais da geração formada por artistas como Os Mamíferos, Aprígio Lyrio, Rogério Coimbra, Arlindo Castro, Paulo Branco, Sergio Regis, Chico Lessa e Nenna.
Realizado principalmente a partir da reunião de talentos capixabas para resgatar obras e materiais que ou se revelam esquecidas pelo grande público, ou nunca viram a luz do dia, o projeto visa compor o registro definitivo do movimento contracultural visto no ES nos anos 60 e 70 através de uma linguagem moderna. A partir dessa perspectiva, dois álbuns foram realizados até então, ambos produzidos por Abreu.
Lamelombras Birinights, o disco de estreia do projeto, já demonstra o caráter caleidoscópico do Aurora ao trazer treze faixas que transitam em paisagens sonoras tão distintas quanto o Rock (as ótimas Agite Antes de Usar e Mônica,Verônica), o Baião (Duro de Roer), a MPB (Corda Bamba) e o Blues (Aqui no Deserto), comprovando o talento desta “geração esquecida” da música brasileira e dando indícios claros do nível de experimentação e diversidade que o projeto almeja trazer sempre.
Já em seu segundo álbum, Aurora Gordon na Ponte da Passagem, o projeto expandiu ainda mais seu escopo. Produzido ao lado do também músico e produtor Rodolfo Simor (Solana, SILVA e André Prando) e realizado com os parceiros do TORRE Inc., o registro investe ainda mais no electicismo e surpreende ao trespassar planos ainda mais díspares, alinhando faixas tão distintas quanto a funkeada Peter Banana, a solene Carrilhão, a lisérgica Beijo Ardente e a afrobeat Espelunca dentro de um mesmo “pacote”.
Com uma sequência fluida e extremamente oscilante de faixas, este segundo trabalho pode soar estranhamente assimilado quando escutado de uma tacada só (a ideia é mais próxima de uma colagem que sirva como o registro do zeitgeist de uma época), mas traz composições ainda mais intrincadas e intensifica a noção da diversidade existente no (historicamente) pouco explorado cenário musical capixaba.
Em 2016, o projeto rendeu seu primeiro registro bibliográfico, o livro Os Mamíferos - Crônica Biográfica de uma Banda Insular. Fruto de um extenso e meticuloso processo de pesquisa a obra do escritor Francisco Grijó abarca principalmente quatro anos na história do grupo capixaba (1967/71), desde o período anterior à sua formação até o fim de suas atividades e os anos seguintes, com uma série de relatos que ilustram não apenas a trajetória da banda, mas também a própria formação da cena musical de Vitória.
Notável pela forma com que mescla resgate e reinvenção em diferentes linguagens, o Aurora Gordon ainda conta com a participação de nomes notáveis do circuito musical capixaba como SILVA, Lucas Arruda, Amélia Barreto, Fepaschoal, Rabujah, Jackson Pinheiro (ex-Supercombo), TAMY e André Prando, servindo também como um ponto de comunhão entre artistas de trabalhos extremamente distintos, reforçando ainda mais seu valor artístico e sociocultural.
Atualmente, o projeto prepara mais dois lançamentos previstos para este ano: Diante dos Meus Olhos, documentário dirigido por André Félix e o clipe de Peter Banana, dirigido por Diego Scarparo. Focando em dar continuidade ao trabalho de transformar os elementos históricos e artísticos da cultura capixaba em uma herança para gerações vindouras, o Aurora promete continuar criando pontes entre passado e presente de forma inventiva e dinâmica, merecendo ser conferido por isso.