Parte da fantástica onda de talentos emergentes que tem se desenrolado no Espírito Santo ao longo da última década, Dan Abranches é também um de seus exemplares mais ecléticos e discretamente eficazes. Com um histórico precocemente robusto de projetos musicais e uma versatilidade insuspeita, Abranches recorrentemente impressiona tanto por conta da intensidade que confere a cada um de seus trabalhos quanto pela segurança admirável com que passeia por diferentes estilos musicais, demonstrando enorme habilidade ao transitar confortavelmente por universos sonoros tão díspares quanto Rock, Folk, Pop e R&B.
Tendo circulado desde jovem por diversas cenas musicais (incluindo estadias prolongadas em Minas Gerais e São Paulo), Dan deu início à sua carreira com projetos como as bandas Olgah (tendo lançado um EP em 2009) e Surbelle (que rendeu um EP em 2011), vindo a alcançar exposição através de versões de composições populares até eventualmente gravar e lançar dois compactos em seu nome: Já Foi (2011) e Ruby (2017). Enquanto os compactos realizados junto da Olgah e da Surbelle representam incursões no pós-hardcore com fortes ecos de nu metal (e toda a visceralidade atrelada), o delicado Já Foi é um trabalho folk marcado pela solenidade e por um profundo caráter confessional. No entanto, é mesmo em seu mais recente compacto, Ruby, em que Abranches mostra a extensão de sua criatividade e a potência de sua voz (literal e figurativamente).
Trazendo uma mistura arrojada de Pop e R&B num pacote marcado por espessas pinceladas jazzísticas que formam uma teia fluida com os beats onipresentes, Ruby é um EP dinâmico e feito com esmero que emprega suas quatro faixas para deixar uma forte impressão na mente do ouvinte e um nítido anseio por mais. Da abertura grudenta (Gold) à conclusão (Quartz [Pump]), o compacto ostenta apuro por meio de seus arranjos e performances vocais precisas, servindo como um cartão de visitas eficiente que, além de sucinto e extremamente agradável, ainda carrega duas faixas candidatas a hits (a dançante Ágata e a ótima faixa-título).
Com uma postura constantemente marcada pela sutileza (elemento que intensifica o impacto de sua sonoridade) e com um repertório de apresentações altamente energéticas que primam pela fidelidade e chocam pela intensidade de sua presença, Dan Abranches é uma figura carismática e inegavelmente talentosa que empolga com sua obra e dá indícios de um futuro repleto de vôos altos e caminhos imprevisíveis. E isso é mais que suficiente para render uma indicação. Vale acompanhar com bastante atenção.