A produção dum segundo disco pode ser um processo extremamente desgastante. Ao tentar conciliar o hype gerado, a necessidade de uma identidade musical sólida e superar a qualidade do trabalho anterior, vários grupos se deparam com uma escolha particularmente ingrata: se firmar no estilo já estabelecido como forma de aumentar seu fanbase e se tornar uma referência ou investir em novos rumos sob o risco de soar descaracterizado e afastar alguns fãs. No entanto,há um meio-termo nesta equação e é justamente este equilíbrio que se revela pulsante no trabalho sophomore do The Baggios. Representando um passo à frente para a dupla, o excepcional Sina não apenas traz todos os elementos que transformaram o disco de estreia numa pequena joia como ainda definiu categoricamente os parâmetros que ajudaram a transformar o (então) duo sergipano em um dos melhores grupos de rock do país .
Produzido pelo duo e gravado no Estúdio Orí (em Aracaju), Sina é um disco que imediatamente chama a atenção pela forma com que amplia o escopo da dupla. Retornando com o blues rock que marcou o álbum anterior (Blues do Aperreio e De Malas Prontas), este novo trabalho ainda traz influências de Folk (a ótima Salomé Me Disse) e Country (Descalço) embaladas num espírito rocker que abre espaço para grooves extremamente bem-vindos e arranjos inusitados (Vagabundo Arrependido). Porém, a maior influência percebida é mesmo a do Classic Rock do final dos anos 60/ início dos anos 70 (Se a referência mais conhecida para caracterizar o álbum anterior era White Stripes, nesse disco é Jimi Hendrix.)
Além disso, é fascinante a forma como a dupla abraça suas origens tanto na inserção pontual de elementos musicais quanto na composição de suas letras. Mais que uma obra cheia de referências, Sina surge como uma verdadeira homenagem às raízes do grupo (incluindo canções dedicadas a figuras icônicas daquele universo) e uma reflexão sobre o caminho traçado por seus integrantes, resultando numa obra sonoramente potente e tematicamente relevante por conta de sua verdade emocional.
Revelando um Baggios mais maduro e seguro, esse segundo álbum tem como maior força os trabalhos notáveis de Júlio Andrade (Guitarra/Voz) e Gabriel Carvalho (Bateria/Percussão). Enquanto Andrade se mostra cada vez mais confortável com seus trabalhos vocais (Domingo) e destruidor em suas linhas esmagadoras e riffs atômicos (Um Rock Para Zorrão, a melhor do registro), Carvalho traz uma pegada ainda mais precisa e energética que no disco anterior (Esturra Leão), reforçando a sincronia perfeita que mantém com o parceiro.
Versátil, empolgante, inegavelmente bem-feito e nunca cansativo, Sina é um disco parrudo que fez jus, com elegância e força, à promessa deixada pelo disco de 2011 como prenunciou o apogeu dum desenvolvimento sonoro que culminou em seu estarrecedor sucessor, Brutown. Mas, mais que isso: É um disco de honestidade insuspeita e visceralidade impressionante que já colocou o Baggios em seu devido lugar referencial, merecendo extensos créditos por isso. O rock brasileiro precisa cada vez mais de exemplos tão bons quanto este.