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5 BANDAS / ARTISTAS #14

 

A série 5 Bandas/Artistas é uma forma de apresentar ao público alguns grupos nacionais que foram considerados dignos de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais grupos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à décima quarta edição:

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MERCI (ES)

Misturando Pop Rock, Folk e uma bem-vinda dose de ingenuidade, este Merci é um daqueles projetos pessoais despretensiosos que, feitos com carinho e cuidado evidentes, atraem e entretém pelo senso de leveza e romantismo que expressam sem a menor cerimônia Trazendo uma miríade de canções edificantes e viciantes dentro duma estética sonora repleta de alusões reconfortantemente familiares, o projeto solo do músico André Mercier (ex-Proxy) encontra na simplicidade a forma ideal de materializar um trabalho de simpatia e afetuosidade inegáveis.


Tendo gerado dois discos coesamente eficazes (Breveterno e Dois é Par) e uma boa parcela de faixas que se mostram equivalentemente lúdicas e pegajosas, Merci é uma recomendação para todos aqueles que desejam conhecer um trabalho fundamentalmente descontraído que aposta na expressão com uma jovialidade desarmadora. Vale a pena conferir e ficar com as melodias na cabeça.



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JOANA BENTES (ES)

Parte da vasta onda de novas vozes da MPB que se desenrolou ao longo dos anos 2010 e tem reverberado até hoje, a cantora e compositora Joana Bentes se distingue de inúmeros de seus pares por conta da mistura altamente acertada de versatilidade, postura discreta e sobriedade revigorante. Misturando estilos e diferentes abordagens sonoras em seus registros, a cantora e compositora é dona de um trabalho cativantemente multifacetado e comedido, mas uniforme em sua concepção parcimoniosa e repleta de bom gosto que valoriza com inteligência sua voz suave e repleta de gravitas.


Com um histórico crescente de apresentações, estadias prolongadas dentro de marcos do circuito nacional (nominalmente, Brasília e Belo Horizonte) e contando com um acervo de registros fasciculado que compreende uma série de singles (incluindo os ótimos Aqui e O Mal Vai Morrer de Alegria) e um eficiente compacto de estreia (Entre), Bentes é uma indicação particularmente direcionada para aqueles que desejam conhecer um trabalho inegavelmente rico, enxuto e dotado de um senso de precisão bem particular.



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CAINÃ E A VIZINHANÇA DO ESPELHO (ES)

Surgido em meados dos anos 2010, Cainã e a Vizinhança do Espelho é um caso particularmente curioso de grupo em atividade no atual circuito indie, não apenas por sua sonoridade híbrida (a qual traz um rock alternativo com fortes pinceladas de psicodelia e post-MPB), mas especialmente pela forma com que leva o termo “independente” a um novo patamar com sua metodologia de trabalho artesanal e altamente pessoal, vindo a conquistar espaço (vide as apresentações na SIM SP e no palco Doritos Garage Rock in Rio) e público por conta disso.


Encabeçado pelo polivalente Cainã Morellato dentro de um ethos Do It Yourself (levado MUITO a sério, diga-se de passagem), o CVE é, para todos os efeitos, um projeto musical multimídia que se edifica a partir de um acúmulo de funções genuinamente insano por parte de seu autor, o qual controla e executa virtualmente todos os aspectos de quaisquer processos produtivos. E, ainda que tal método esteja claramente fadado a um eventual ponto de saturação, essa abordagem kamikaze (devidamente registrada nos álbuns Morador do Mato e O Último Disco do Ano) acaba sendo seu maior diferencial por conferir uma solidez inata ao projeto a partir duma perspectiva criativa única, permitindo que a sensibilidade de Morellato deixe sua impressão em cada obra realizada, independente do formato (vide o magnífico clipe de Adeus). O resultado final é um projeto que, apesar de pontualmente rudimentar, jamais deixa de ser interessante por conta do senso de autenticidade que expressa, merecendo a indicação por isso.



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AURI (ES)

É sempre fascinante quando a coisa mais interessante na sonoridade de uma banda não reside necessariamente em suas proposições estéticas, técnicas ou líricas, mas justamente na riqueza da dinâmica estabelecida entre seus membros, como acontece com esta Auri. Com uma sonoridade expansiva e caleidoscópica que mistura indie rock, emo, space, math e elementos tão díspares que se torna até complicado de pontuar com precisão, o quinteto realiza um trabalho constantemente marcado por arranjos apurados, timbres elegantes e por um senso de equilíbrio que denota não apenas o nível de integração existente entre os músicos, mas sua lógica fundamentalmente contrapontual. O resultado desta tapeçaria sonora remete a um tipo de som cuja descrição mais aproximada seria uma fusão entre a energia explosiva do Supercombo, o vocabulário da Kalouv e a espacialidade calculada do Solana que é capaz de atrair até os mais céticos.


Contando com um apanhado de registros altamente competentes e ilustrativos que incluem o single Quintal e o compacto Resiliência, a Auri é uma máquina bem-afinada cuja maior proposta de valor é justamente a integração de suas peças homogeneamente eficazes - ainda que aqui eu tenha que fazer um shout out bem pessoal pras guitarras de Danilo Galdino e pros teclados e synths da inigualável Thayza Pizzolato - e que, cada vez mais, demonstra seu vasto potencial por conta de seu teamwork. Altamente recomendado para aqueles que desejam conhecer uma Banda com B maiúsculo.



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ANA MULLER (ES)

Um dos nomes mais evidentes a surgirem e alcançarem projeção fora do Espírito Santo nos últimos dez anos, Ana Muller representa também um de seus exemplares mais consistentemente fascinantes. Inicialmente reconhecida por conta de seus vídeos nas mídias sociais e rapidamente propelida ao status de promessa no circuito nacional por meio de uma série de apresentações marcantes que inclui participações em festivais nacionais como DoSol, Bananada, SIM SP e CoMA, a cantora e compositora vem conquistando público e renome pela força de seu trabalho, o qual mistura volumes de densidade em canções duma expressividade colossal e retidão perfurante com uma acessibilidade atípica e intrigante.


Dona de uma voz potente, persona singela e de uma franqueza avassaladora, Muller é uma artista da fome e uma letrista brutalmente incisiva. Suas composições são frutos de movimentos catárticos, partos criativos que dialogam com lugares muito profundos (e, por vezes, sombrios) da alma humana, comunicam dores e desejos que latejam longinquamente e revelam universos inteiros de carências, medos, paixões, esperanças e amores puros, se intercalando com fluidez e crueza assombrosas. No entanto, apesar de recorrentemente retratar sem atenuantes a natureza violenta dos invernos da alma e dos descompassos internos que assolam a mente, Muller consegue aproximar o ouvinte com um nível de sutileza, sensibilidade e graça tão grande que todo o processo e a substancial carga atrelada se tornam palatáveis quase ao ponto do imperceptível. E essa talvez seja sua maior qualidade enquanto artista.

Munida de uma discografia crescente que conta com um popesco compacto epônimo de estreia, uma compilação de singles (intitulada 2012-2016) e um álbum estarrecedor (Incompreensível), Ana Muller é uma artista de trabalho complexo e imensamente profundo que merece crédito não apenas por sua apresentação visceral e qualidade lírica, mas pela forma corajosa e irrestrita com que consegue tocar o ouvinte ao abraçar algo que os artistas têm evitado de uma forma ou de outra: Sua falibilidade enquanto indivíduo e o senso de Humanidade que vem daí. E isso por si só já é mais que suficiente pra valer a recomendação.



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Dúvidas? Questionamentos? Recomendações? Participe enviando um email para roadtocydonia@gmail.com e fique de olho nas próximas postagens. Até a próxima edição.

Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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