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5 DISCOS #8

 

A série 5 DISCOS é uma forma de apresentar ao público alguns álbuns e compactos que foram considerados dignos de nota pela edição do Road To Cydonia.

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão de tais trabalhos de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre lançamentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à oitava edição:

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TROVÕES A ME ATINGIR (Jair Naves, 2015)

Surgindo como uma mistura tupiniquim do Stories From The City, Stories From The Sea (PJ Harvey) com o Ok Computer (Radiohead), o segundo registro do excelente Jair Naves é um daqueles exemplares clássicos de trabalhos sophomores altamente evolutivos, se tornando ainda mais fascinante por conta de seu caráter altamente contrastante, formando uma série de contraposições sutis que vão do tema central (o calejamento emocional diante da frieza urbana e a melancolia resultante) às letras carregadas e à estética adotada, a qual concilia arranjos e timbres elegantes e potentes com a voz idiossincrática do músico.

Mostrando uma alternância impressionante de paisagens sonoras ao longo de suas nove faixas – que incluem as potentes 5/4 e No Meu Encalço, assim como a belíssima B. e a furiosa Em ConcretoTrõvoes A Me Atingir é um trabalho elegante e pulsante que reforça a força de seu autor em sua fase pós-Ludovic e o coloca como um dos artistas mais intrigantes da atual cena independente. Discão que merece ser ouvido de coração aberto.

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JUNIPER (Lautmusik, 2015)

Sendo ridiculamente conciso nesta avaliação: O segundo disco do Lautmusik é um raio acertando novamente no mesmo ponto após o excelente Lost in the Tropics. Contando com dez faixas que reapresentam o Shoegaze Pós-Punk do quinteto porto-alegrense com propriedade e finesse, este segundo registro surpreende ao se revelar um trabalho ainda mais lisérgico e frenético que seu predecessor (vide The Purples and the Greens, Lake Eerie e Stargazer), resultando numa obra dinâmica e concisa que diz a que veio sem rodeios.

Conseguindo a proeza de se distinguir do registro anterior ao mesmo tempo em que respeita as bases sonoras previamente estabelecidas e novamente ancorado na dinâmica liderada pelo vocal repleto de dinâmica e nuance de Alessandra Lehmen, Juniper é um trabalho familiarmente reconfortante e altamente recomendado para todos aqueles que desejam ouvir um som oitentista ágil e sem firulas.

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III EP (Rakta, 2016)

Tentar escrever objetivamente sobre qualquer trabalho do Rakta não é apenas uma tarefa ingrata pela complexidade inerente, mas também um exercício fadado ao reducionismo involuntário, dada a extensão do escopo do grupo. Sendo assim, basta dizer que este segundo registro move adiante o vórtex sonoro promovido pelo trio paulistano por meio das cinco faixas aqui contidas, as quais se encadeiam numa espécie de transe que alterna passagens de “rock mântrico” (Raiz Forte e Intenção) e instantes de minimalismo perturbador (A Violência do Silêncio e A Busca do Círculo) com direito a um momento expansivo de exploração eletrônica (Filhas do Fogo / Conjuração do Espelho).

Transcorrendo com um estranho senso de paciência associado a um nível de imersão absurdo e sinais muito claros do direcionamento ambicioso que estava então sendo adotado pelo grupo instrumental, III é um compacto de força inequívoca que não apenas representa um avanço para seus autores, mas um sinal da deslanchada que seria adotada futuramente. Fortemente recomendado para todos aqueles que desejam ouvir um som potente que dispensa maiores explicações e que inevitavelmente entortará a cabeça do ouvinte

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JÚPITER (SILVA, 2015)

Dono de uma carreira relativamente curta, mas inegavelmente prolífica e expressiva, o cantor e multi-instrumentista SILVA se tornou uma referência no cenário musical brasileiro por conta de sua mistura de sonoridade arrojada (a qual mistura Pop, Eletrônico e MPB de forma fluida e elegante), postura discreta e um currículo que conta com diversos registros e passagens marcantes por circuitos nacionais e internacionais. Porém, poucos dos seus lançamentos o retrataram trilhando o caminho das pedras e explorando uma faceta mais transgressiva de sua musicalidade como este Júpiter, seu terceiro (e mais divisivo) disco.

Novamente produzido pelo próprio músico e gravado em sua casa e no estúdio TORRE Inc., este novo registro se revela um trabalho singular por conta de seu caráter minimalista e um tom consideravelmente distinto de seus predecessores. Adotando arranjos mais enxutos e substituindo a solenidade e a energia edificante por uma constante aura de melancolia velada, Júpiter é uma audição surpreendentemente compassada e contemplativa. Com faixas concebidas pelo músico ao lado de seu parceiro recorrente e irmão, Lucas Silva, o disco também revela uma bem-vinda ambição temática e um cinismo inédito na obra do capixaba ao já surgir angustiado, abrindo o caminho para uma seqüência de passagens repletas de questionamentos e reflexões que giram em torno de um tema central (o Amor e suas intempéries), mas inferem uma série de subtextos mais complexos (Sufoco). Abraçando letras confessionais, o disco explora a fundo a ideia de um eu lírico que está em constante estado de auto-avaliação (Eu Sempre Quis e Sou Desse Jeito) e dividido entre um espírito naturalmente esperançoso e a resignação diante do mundo caótico que lhe cerca.

Contrabalanceando o teor mais maduro com uma abordagem econômica que explora gêneros como Hip Hop, Soul e R&B (vide o hit Feliz e Ponto), o disco concilia simplicidade e eficiência para criar um clima sempre envolvente e revelar um Silva mais confortável e despojado em suas funções de cantor e instrumentista, aproveitando também a participação de seus músicos de apoio (Hugo Coutinho e Rodolfo Simor) para subverter suas marcas registradas e avançar numa direção que poucos imaginariam. Contando com uma parcela de boas surpresas (como a versão inusitada de Marina, de Dorival Caymmi) e beneficiado por um fechamento (Notícias, a melhor do LP) que forma uma rima temática magnífica com a faixa de abertura, Júpiter é um disco coeso e magnético que ainda ganha pontos por sugerir uma reflexão em torno da dureza que é amar em tempos de cólera (um tema extremamente pertinente e atual, diga-se de passagem). Mais que isso, é o momento no qual Silva abraça sua maturidade sem reservas e descobre a extensão da sua voz artística, merecendo ser ouvido por isso.
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ANIMANIA (INKY, 2016)

Visto como uma das maiores promessas surgidas no cenário independente brasileiro nos anos 2010, o quarteto paulistano INKY atraiu público e crítica por conta de seu Electro-Rock energético e elegante, fomentando uma carreira que, apesar de curta, tem sido marcada por uma ascendente vertiginosa tanto no circuito nacional quanto internacional. Dois anos após o lançamento de seu disco de estreia (o ótimo Primal Swag), o grupo entrou numa nova fase com um sucessor que não apenas comprovou o potencial percebido como conferiu nova estatura e perspectiva à sua obra na forma do excelente Animania.

Produzido pela própria banda ao lado de Guilherme Kastrup e gravado no Red Bull Studio (São Paulo), este novo registro imediatamente chama a atenção pela forma com que retoma as qualidades de seu predecessor ao mesmo passo em que expande consideravelmente o universo sonoro de seus autores. Com oito faixas, o disco revela uma consistência assustadora na mistura de inventividade e coesão, servindo como uma eficiente demonstração de foco e escopo que percorre paisagens sonoras distintas com fluidez e classe.Mais que isso: Animania também é um trabalho surpreendentemente equilibrado e maduro. Do início vibrante (Parallax, cuja letra serve como um forte convite ao universo simbólico do LP) ao final catártico (In The Middle Of A Rising), o disco é edificado sobre uma sequência de faixas que mesclam refinamento e visceralidade de forma admirável (vide Skinned Alive e a frenética Dualism). E é interessante notar como que o preciosismo técnico da obra surge a serviço da ideia de propiciar uma experiência sonora imersiva, impedindo que a miríade de timbres, texturas e melodias sature o ouvinte em momento algum.

Construído a partir da química existente entre seus membros, Animania pode ser considerado um legítimo álbum de banda pela forma com que expõe seus talentos individuais e a dinâmica afiada resultante da união dos mesmos: Enquanto o baixista Guilherme Silva e o baterista Luccas Vilela formam uma “cozinha” sólida (vide o groove persistente de Future Tongues), o guitarrista Stephan Feitsma se revela uma “carta curinga”, empregando um leque de efeitos e linhas de guitarra para preencher o som e tomar a dianteira de forma intermitente (When The Fire Burns). No entanto, o centro gravitacional do álbum se configura mesmo na vocalista Luiza Pereira, a qual interpreta as tracks com versatilidade insuspeita (vide The Rarest Goods), também empregando seus synths de forma sempre acertada e pontual. Denso, dinâmico e caleidoscópico por definição, Animania é um trabalho intenso e viciante que não apenas serve como um contundente testamento da sonoridade do grupo (vide a sublime Devil’s Mark, que conta com a trupe do Bixiga 70). Indicação obrigatória para audiófilos que desejam conhecer o melhor que o indie brasileiro pode oferecer.

 

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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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