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DICA RTC #9: PARTO EP (Jennifer Lo Fi, 2014)

 

Deixando um semi-testamento de sua trajetória antes dum hiato prolongado, Jennifer Lo Fi registra sua potência sonora e criatividade dissociada de amarras com Parto, compacto que serve como uma admirável coda criativa para um dos melhores projetos a sairem da cena paulistana nos anos 2010.


Figura carimbada e sobressalente na cena alternativa paulistana, a Jennifer Lo Fi é uma daquelas bandas que constantemente inspiram nossa curiosidade, tanto por sua proposta musical quanto por sua metodologia de trabalho discreta e esporádica. Com uma sonoridade intrincada baseada na mescla de Math Rock e Progressivo e uma curta carreira marcada por três eficientes EPs, o grupo paulistano deixa uma espécie de coda testamental antes de seu hiato prolongado com o ótimo Parto, compacto que figura como seu último lançamento até então.

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Produzido pela banda ao lado de Diogo de Nazaré em ambientes predominantemente caseiros, esse novo registro marca uma nova fase para o sexteto desde seu último trabalho de estúdio (o perturbador Noia), refletindo tanto as mudanças na formação (mais precisamente, a entrada do guitarrista Zé Barrichello e a consolidação de Arthur Porciuncula nos sopros e na percussão) e a nova dinâmica resultante, assim como o amadurecimento de seus membros nesse ínterim. O resultado é um EP que soa não apenas mais contido e compenetrado, como também se revela o mais acessível do conjunto até então.

 

Com uma abertura caracteristicamente nervosa na boa Acardia, o EP imediatamente demonstra a capacidade do grupo em alternar grooves caóticos com passagens dissonantes de contemplação (e essa “gangorra” já virou uma das assinaturas do grupo). Seguindo com a titânica Frank.Bruxelas.?????, o compacto também reforça a habilidade do sexteto em desenvolver faixas expansivas e complexas que, mesmo longas (nesse caso, 9 minutos e 19 segundos), se revelam divertidas e nada cansativas. Fechando a nova leva de faixas, a excelente Épica faz jus ao nome por mostrar a banda em um de seus melhores momentos, trazendo uma energia intensamente barulhenta e mudanças de dinâmica fluidas que alcançam o auge do experimentalismo com uma coda surpreendente.

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Trazendo a J-Lo como um grupo mais coeso e experiente, Parto se revela imensamente beneficiado pela integração de seus autores. Seja na cozinha formada por Will Couto (Baixo) e Luccas Villela (Bateria) ou na dupla de guitarras formada por Caio Freitas e Barrichello, o compacto funciona muito bem ao expor um grupo de músicos que obviamente se entende, evitando o efeito “Torre de Babel” tão visto em grupos experimentais do tipo. E se a presença do supracitado Porciuncula se revela uma adição acertada, o fato é que o destaque maior acaba indo mesmo para a sempre fascinante Sabine Holler, que mostra aqui um crescimento notável como vocalista e letrista (nesse aspecto, vale frisar Épica novamente).

 

Ágil, bem-realizado e, por vezes, surpreendente, Parto é um EP curto e eficiente que serve como um ótimo cartão de "até logo" para a Jennifer Lo-Fi. E que esse registro sirva como o lembrete cabal dessa banda que pode não ser óbvia agradar a todos os gostos, mas jamais deixa de ser interessante e profundamente instigante. Vale a pena conferir e torcer por um eventual retorno.



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Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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