Figura carimbada e sobressalente na cena alternativa paulistana, a Jennifer Lo Fi é uma daquelas bandas que constantemente inspiram nossa curiosidade, tanto por sua proposta musical quanto por sua metodologia de trabalho discreta e esporádica. Com uma sonoridade intrincada baseada na mescla de Math Rock e Progressivo e uma curta carreira marcada por três eficientes EPs, o grupo paulistano deixa uma espécie de coda testamental antes de seu hiato prolongado com o ótimo Parto, compacto que figura como seu último lançamento até então.
Produzido pela banda ao lado de Diogo de Nazaré em ambientes predominantemente caseiros, esse novo registro marca uma nova fase para o sexteto desde seu último trabalho de estúdio (o perturbador Noia), refletindo tanto as mudanças na formação (mais precisamente, a entrada do guitarrista Zé Barrichello e a consolidação de Arthur Porciuncula nos sopros e na percussão) e a nova dinâmica resultante, assim como o amadurecimento de seus membros nesse ínterim. O resultado é um EP que soa não apenas mais contido e compenetrado, como também se revela o mais acessível do conjunto até então.
Com uma abertura caracteristicamente nervosa na boa Acardia, o EP imediatamente demonstra a capacidade do grupo em alternar grooves caóticos com passagens dissonantes de contemplação (e essa “gangorra” já virou uma das assinaturas do grupo). Seguindo com a titânica Frank.Bruxelas.?????, o compacto também reforça a habilidade do sexteto em desenvolver faixas expansivas e complexas que, mesmo longas (nesse caso, 9 minutos e 19 segundos), se revelam divertidas e nada cansativas. Fechando a nova leva de faixas, a excelente Épica faz jus ao nome por mostrar a banda em um de seus melhores momentos, trazendo uma energia intensamente barulhenta e mudanças de dinâmica fluidas que alcançam o auge do experimentalismo com uma coda surpreendente.
Trazendo a J-Lo como um grupo mais coeso e experiente, Parto se revela imensamente beneficiado pela integração de seus autores. Seja na cozinha formada por Will Couto (Baixo) e Luccas Villela (Bateria) ou na dupla de guitarras formada por Caio Freitas e Barrichello, o compacto funciona muito bem ao expor um grupo de músicos que obviamente se entende, evitando o efeito “Torre de Babel” tão visto em grupos experimentais do tipo. E se a presença do supracitado Porciuncula se revela uma adição acertada, o fato é que o destaque maior acaba indo mesmo para a sempre fascinante Sabine Holler, que mostra aqui um crescimento notável como vocalista e letrista (nesse aspecto, vale frisar Épica novamente).
Ágil, bem-realizado e, por vezes, surpreendente, Parto é um EP curto e eficiente que serve como um ótimo cartão de "até logo" para a Jennifer Lo-Fi. E que esse registro sirva como o lembrete cabal dessa banda que pode não ser óbvia agradar a todos os gostos, mas jamais deixa de ser interessante e profundamente instigante. Vale a pena conferir e torcer por um eventual retorno.