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Resenha: LERA II EP (LERA, 2021)

 

Com o compacto LERA II, Murilo Abreu dá continuidade à costura sonora que caracteriza seu trabalho-solo e seu projeto mais pessoal até então, investindo em uma nova direção ao mesmo passo em que aprofunda as dimensões de sua musicalidade com propriedade e sofisticação.(CAPA: Murilo Abreu)


Recentemente citado nas páginas do Cydonia, Murilo Abreu é dono de uma carreira prolífica que cruza décadas em cima e atrás dos palcos. Seja à frente do trio de jazz Submarino, como integrante do quarteto Solana ou capitaneando o projeto Aurora Gordon, o músico e produtor cultural capixaba construiu uma história intimamente ligada à construção do circuito musical de seu estado, tendo trilhado um caminho que recentemente o levou a uma nova fase com o lançamento do projeto-solo LERA, iniciado em 2019 com um ótimo compacto de quatro faixas. Agora, Abreu retorna com LERA II, novo EP que expande tanto sua sonoridade quanto método criativo de maneira inegavelmente sofisticada e expressiva, simbolizando um contundente passo à frente para seu projeto mais pessoal até então.

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Gravado nos estúdios Toca do Tatu ao lado do multi-instrumentista e produtor Gabriel Ruy e Bravo LAB., sendo novamente mixado e masterizado ao lado de Rodolfo Simor, este novo compacto não apenas se distingue de seu predecessor ao trazer uma gama de participações - Thayza Pizzolato, Oziel Netto e Alexandre Mattos, além dos parceiros recorrentes Simor e Ruy - como também ao apresentar uma nova faceta da musicalidade de seu autor. Caracterizado como a segunda parte de uma trilogia, as quatro faixas aqui contidas contrastam sonoramente com o EP anterior ao investir em novas estéticas ao mesmo passo em que mantém um senso de unidade ao preservar elos com o trabalho realizado anteriormente.



Iniciado com um bem-vindo dinamismo, este EP imediatamente se revela uma obra de concepção distinta e inventividade patente com Elvis the Cat, faixa de abertura que, co-composta pelo poeta Caê Guimarães (ganhador do prêmio Sesc Literatura 2020), usa seu ar de rockabilly desconstruído para estabelecer uma afetuosa homenagem ao seu personagem-título ao mesmo tempo em que evoca uma reflexão sobre a senciência. E é interessante notar como que este aspecto inusitado tem continuidade na faixa subsequente, a fantástica Marujo da Vertigem (a qual já foi comentada anteriormente por nossa editoria), a qual (também co-composta por Guimarães) emprega uma levada compassada e uma forte carga melancólica para estabelecer uma onda imersiva que estabelece um novo campo dentro da sonoridade do projeto com um senso de tensão latente altamente chamativo (uma referência próxima seria Tomorrow Comes Today, do Gorillaz) devidamente registrado em sua letra altamente confessional.



 

Vale ressaltar que esta quebra de expectativas se torna quase que uma assinatura deste registro, tendo continuidade de maneira altamente inusitada e sensível com a evocativa Ana e o Dirigível. Se contrapondo de maneira bem sutil à carga soturna de Marujo, a faixa instrumental foi inspirada por um relato familiar sobre a passagem do Graf Zeppelin sobre a cidade de Marataízes nos idos dos anos 30 e serve como uma paisagem sonora que vagarosamente constrói uma ilustração do senso de antecipação, excitação e maravilhamento causado pelo evento. Concluindo a audição dentro desta mesma lógica, a balada introspectiva Eu Ainda Estou Aqui retoma a estética minimalista e acústica vista no primeiro compacto, estabelecendo uma reflexão deliberada e profundamente intimista que encerra este trabalho numa nota agridoce e elegante em sua amarração com o primeiro EP ao mesmo passo em que fecha sua lógica interna com eficácia insuspeita.




Rico, resoluto e repleto de alma, LERA II é um trabalho cujo forte senso de intimidade se manifesta tanto em seus aspectos poéticos quanto técnicos, resultando numa obra coesa e indiscutivelmente honesta que constrói sobre a base criada por seu predecessor de maneira emotivamente criativa e abre um leque de possibilidades para uma excelente conclusão no próximo EP. E que venha a conclusão desta trilogia.

 
 
Guilherme Guio
Guilherme Guio
Publicitário por formação, especialista em Comunicação Corporativa e Inteligência de Mercado, é o editor e redator principal do RTC. Atuando como consultor de Marketing Cultural, resolveu dar vazão aos seus arroubos verborrágicos através deste projeto. Também é tabagista compulsivo, cinéfilo inveterado, adepto de audiófilo e dançarino amador vergonhoso nas horas vagas.

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