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DICA RTC #16: NOT I EP (Not I, 2023)

Em seu compacto de estreia epônimo, o trio capixaba NOT I emprega uma abordagem econômica e um acervo de referências delineadas para registrar uma sonoridade noventista de potência e reverência insuspeitas, entregando um eficiente cartão de visitas no processo. (CAPA: Ignez Capovilla)

 

Como já pontuei anteriormente neste site, é sempre interessante quando um registro de estreia evidencia a miríade de influências de seus autores de maneira a expressar uma forte admiração em vez de soar derivativo (ou até mesmo parasítico). Não necessariamente por facilitar a assimilação do trabalho em questão (ou até mesmo a escrita sobre o mesmo), mas por indicar de maneira categórica os parâmetros duma proposta artística ainda em sua infância e, consequentemente, seus possíveis caminhos futuros. A medida exata para uma visualização deste plano varia de projeto para projeto e registro para registro, mas, no caso da NOT I e seu primeiro lançamento, foram necessárias apenas três faixas para entender quem são e o que querem dizer.

Compacto de estreia do trio capixaba, este EP epônimo surge como uma saudação sucinta que cumpre a dupla função de apresentar um panorama compreensivo da sonoridade de seus autores e enquadrar o ouvinte em seu universo altamente introspectivo com eficiência e simplicidade. Trazendo três faixas que trespassam curtos 13 minutos de duração, este primeiro registro mistura pinceladas de garage, pós-punk e psicodelia numa costura shoegaze arrojada que soa como uma fusão de PJ Harvey, Sonic Youth e pitadas de Tool.

 

Composto por paisagens sonoras que soam distintivas, mesmo interligadas estética e tematicamente, o compacto também chama a atenção por seu desenvolvimento gradativo, ganhando tração e intensidade à medida em que a audição transcorre. Dos movimentos iniciais da soturna faixa de abertura (Depressive Cake), passando pela levada metronômica de Its All Habit (a qual é pontuada por um riff super pegajoso) até culminar na energia catártica da marcante Bitterness (que fecha a trinca de maneira pulsante), este EP é permeado por um senso de tensão crescente que engloba toda sua duração e é constantemente evidenciado pela variação existente entre as faixas.

FOTO: Miro Soares / Divulgação

Além disso, os arranjos calcados no contraste existente entre os vocais discretos da baixista Ignez Capovilla, as baterias marcadas de Villinevy Koppe e as guitarras evocativas de Felipe Paradiso conferem dinâmica e peso a cada faixa, permitindo que a linguagem característica do power trio seja devidamente computada sem jamais abandonar o comedimento e a praticidade. O resultado final é um trabalho enxuto de construção parcimoniosa que consegue dizer muito com relativamente pouco.

 

Imensamente beneficiado pela mixagem de Alexandre Barcelos e pela masterização de Igor Comério, as quais reiteram a natureza enxuta e reverente do som a partir do equilíbrio entre nitidez e aspereza, Not I EP é um registro introdutório que, econômico e honesto, atrai justamente por abraçar suas raízes identitárias sem reservas. E sua proposta clara e direta são razões mais que suficientes para garantir repetidas audições.

2 de abril de 2024

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