Guilherme Guio

DICA RTC #15: DESPEDIDA EP (VITU, 2022)

Em seu primeiro registro estendido, Vitor Locatelli (VITU) realiza um simbólico rito de passagem e consolida sua mistura de melancolia e otimismo de maneira caracteristicamente sensível com o edificante EP DESPEDIDA. (FOTO DA CAPA: Luiza Grillo e Marina Melim)

 

Desde que inaugurou seu projeto-solo com um ótimo single de estreia durante o lockdown de 2020, Vitor Locatelli (vocalista e guitarrista da Moreati, que aqui opera sob o nome artístico VITU) já demonstrou um claro talento para construir canções que abordam a profundidade e a fragilidade inerentes às experiências humanas com uma mistura de sensibilidade e ternura que ganha volumes de estatura a partir de sua entrega discreta.

 

Tendo reiterado esta primeira impressão com outro ótimo single lançado em parceria com Érika Nasser, o cantor e compositor capixaba agora retorna com DESPEDIDA, compacto de quatro faixas que não apenas serve ao propósito de consolidar sua proposta artística, como apresenta um cartão de visitas enxuto que se revela atraente e tocante em medidas equivalentes.

Produzido pelo próprio Locatelli com gravação e mix de Jackson Pinheiro, este EP se estabelece emblematicamente tanto por representar a primeira obra completa de seu autor quanto por evocar um forte senso de “rito de passagem” (temporalmente marcado pelo encerramento do isolamento social e do terror da pandemia do Covid-19). Trazendo quatro composições que trespassam curtíssimos 13 minutos de duração, Despedida é um trabalho de foco cristalino que já estabelece sua proposta desde a faixa de abertura (a declarativa Nada é Mais Como Era Antes) e cativa a cada audição por conta de sua simplicidade.

 

Podendo ser descrito como uma reflexão entranhada sobre a chegada dum novo momento na vida que se desdobra de maneira vagarosa e contemplativa, este trabalho também chama a atenção pela forma que mescla melancolia e esperança de maneira quase imperceptível a partir duma sonoridade folk de comedimento insuspeito. Abordando frontalmente o caráter impressionista e fluido do processo de sentir uma mudança interna em percurso, o EP é hábil na maneira como consegue evocar sentimentos complexos de maneira altamente ilustrativa e sempre desafetada (vide a belíssima faixa-título).

FOTO: Luiza Grillo e Marina Melim / Divulgação

Edificado sobre a imensa humanidade das letras e delicadeza da voz de VITU, Despedida também se mostra um trabalho extremamente intimista que registra com propriedade a sensibilidade particular de seu autor, o qual reitera aqui não apenas uma doçura titânica como uma visão fundamentalmente otimista e descaradamente romântica (vide Portão). O resultado final é um compacto cativante que soa legitimamente autoral e pervasivamente edificante, numa combinação digna de nota por si só.

 

Beneficiado pela colaboração pontual dum time de produção minúsculo, mas inegavelmente contundente (além de Pinheiro, o EP traz os teclados da ótima Thaysa Pizzolato e a master redonda de Xande Barcellos), Despedida também avança em seu fechamento ao ampliar o universo sonoro de seu autor com a bossesca Nosso Tempo, sugerindo possíveis caminhos para seu trabalho no futuro.

 

Coeso, honesto e sensível, Despedida é um trabalho pontual que cumpre habilmente sua função de apresentar VITU como uma voz artística a ser acompanhada e que consegue a proeza de aguçar a sensibilidade do ouvinte e inspirar a realizar suas próprias reflexões. E, para um trabalho de estreia, não dá pra esperar muito mais que isso.

6 de março de 2023

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