5 Discos

5 DISCOS #12

A série 5 DISCOS é uma forma de apresentar ao público alguns álbuns e compactos lançados que foram considerados dignas de nota pela edição do Road To Cydonia.

 

Misturando estilos e sonoridades, a lista tem como intuito a difusão das composições de grupos e artistas de forma econômica e direta, assim como incentivar a troca de informações sobre talentos que têm dado as caras nos últimos tempos. Sem mais delongas, vamos à décima segunda edição:

CÉU VERDE EM CIDADE DESERTA (Camus, 2022)

Disco de estreia do grupo de rock psicodélico Camus (aqui em sua segunda formação), este CÉU VERDE EM CIDADE DESERTA apresenta o escopo sonoro de seus autores de maneira altamente ilustrativa, expressando um bem-vindo senso de descontração e experimentação despretensiosa no processo. Trazendo dez faixas que abarcam pouco mais de meia-hora de duração, o disco apresenta um panorama de tracks que transitam entre uma jovialidade malandra (No Chão, Perdido e Fim da Linha), introspecção (Refém, Fantasia e A Virgem) e a mais pura vibe (o lead single Pássaro Negro e Contramão) com fluidez e desapego, resultando num trabalho que se mantém constantemente imprevisível por seu espírito divagante.

Fortemente marcado por uma crueza que recorrentemente remete à psicodelia sessentista ao mesmo passo em que reflete um ethos Do It Yourself, CVECD também merece crédito pela maneira comedida com que investe na lisergia sem cair na cilada de soar pretensioso ou grandiloquente (os músicos realmente soam como se estivessem se divertindo), mesmo com arranjos frequentemente digressivos (vide Costa Brasilis, possivelmente a melhor do registro). É um trabalho que surpreende por seu caráter singelo e que registra o espírito criativo de seus autores com eficácia, podendo ser recomendado para fãs duma sonoridade mutantesca que não tem medo de viajar sem reservas.

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DANÇA DA FALA (Edivan Freitas, 2018)

Pérola que não recebe o reconhecimento que merece, este segundo disco do cantor, compositor e violonista Edivan Freitas é, como o próprio título sugere, um trabalho calcado na delicadeza e na graciosidade. Estruturado a partir da costura minuciosa de dez canções (todas belíssimas) que abordam temas identitários e afetivos com eloquência, profundidade e desenvoltura, DANÇA DA FALA repetidamente fascina pela elegância e pela sensibilidade que registra ao longo de seus 40 minutos de duração, deixando uma forte impressão no ouvinte desde sua abertura (a tocante Um Bem) até seu encerramento (a confessional Eu Opus Meu).

Edificado sobre a potência discreta de Edivan como cantautor e letrista (vide a faixa-título, Cara de Cores (João Bananeira) e Povo É), este registro também é enriquecido pela maneira calculada com que cada faixa é permeada por pinceladas duma miríade de influências musicais (há fortes ecos de samba, bossa e música de raiz), resultando num trabalho altamente coeso e multifacetado em medidas equivalentes. Contando com uma boa parcela de momentos notáveis (vide A Alma do Meu Ócio é Outro Negócio), Dança da Fala é uma obra de autoralidade insuspeita que, realizada com classe e zelo, pervasivamente convida a repetidas audições para compreender sua magnitude e substância.

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PERO QUE SI (Pero Que Si, 2020)

Um dos trabalhos mais inusitadamente revigorantes a cruzar o radar de nossa editoria desde o período nefasto da pandemia, este PERO QUE SI surge como uma bem-vinda surpresa que vagarosamente seduz o ouvinte com sua mistura de sonoridade imersiva, carisma e leveza. Construído a partir da união acertada entre a fantástica TAMY e os músicos Bruno Zanetti (Big Bat Blues Band), Jeremy Naud e Nêgo Léo (Zémaria), este disco epônimo entrega um Dub Reggae popesco que consistentemente desperta a admiração por sua mescla de acessibilidade, apuro e vivacidade contagiante.

Trazendo nove faixas que fluem com agilidade invejável ao longo de meia-hora de duração, este registro apresenta uma série de paisagens sonoras que intercalam passagens de desprendimento edificante (as ótimas Deixa, Chamado, Feriado e a instrumental Noventa, também tem numa versão dub) com instantes admitidamente calorosos (Douze e Tava te Esperando) e até um trecho mais denso (La Lucha) com naturalidade, conseguindo abrir espaço para uma ótima versão da icônica Sangue Latino, do Secos & Molhados (e que aqui vira um legítimo deleite na voz de Tamy). Recomendação obrigatória para aqueles que curtem ouvir música para relaxar e simplesmente imergir num som de qualidade.

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SELVA (Fabriccio, 2021)

É sempre fascinante quando um trabalho concebido com o propósito de apresentar um artista ao público acaba servindo, simultaneamente, como cartão de visitas e atestado de maturidade para seu(s) autor(es), revelando uma voz artística que já surge dotada de visão clara e proposta bem delineada. E é ainda mais interessante quando tal trabalho é marcado por uma imponência lírica e sonora que causa um impacto duradouro no ouvinte e deixa um senso inequívoco de aprofundamento genuíno numa perspectiva singular, como acontece com este ótimo SELVA.

Ocupando confortavelmente o ponto de intersecção entre R&B, Soul e Pop, o disco do cantor e compositor Fabriccio concilia lirismo, ambição temática e proficiência estética de maneira altamente orgânica e incisiva ao focar em seu universo simbólico. Com um acervo parrudo de quinze faixas que cruzam pouco menos de uma hora de duração, este registro é permeado por passagens que, habilmente amarradas entre si, registram o fluxo de consciência de seu autor e suas reflexões acerca de sua identidade (o hit Teu Pretim, O Poder do Machado de Xango, Oxum e O Negro Quando Canta), cotidiano (Amor e Som, Dia de Ver Meu Bem e Beira Mar) e afetividade (Bossa Velha, Preta e Me Abraça) com sofisticação e doçura encantadoras.

Suave em sua defluência e homogeneamente elegante, Selva é um disco rico e viciante que já garante uma vitória para seu autor no início do jogo ao consolidar sua autenticidade e surge como uma recomendação obrigatória pra quem curte um som cativante de estofo e personalidade irrefutável.

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TRAMÓIA (Roça Nova, 2021)

Possivelmente o trabalho mais surpreendentemente pulsante a surgir em nosso radar no período pandêmico, o disco de estreia do grupo Roça Nova é, na falta de termo melhor, uma suingada incursão aos sentidos do ouvinte. Funcionando como uma colcha de retalhos caleidoscópica que mistura rock psicodélico, ritmos afrolatinos e música caipira numa fusão brilhantemente batizada de “Caipigroove”, este TRAMÓIA se apresenta como uma verdadeira epopéia sonora que remete fortemente a nomes caracteristicamente regionais (e notórios) como Nação Zumbi e Cordel do Fogo Encantado.

Composto por dez faixas que abarcam pouco mais de meia-hora de duração, este álbum é, acima de tudo, uma demonstração quase obscena de vigor e foco. Carregando à frente uma verve obstinada que se manifesta desde sua abertura (a ótima Cambalacho) até sua conclusão (Roça Nova, que praticamente induz a um replay imediato do LP), Tramóia é um trabalho que, permeado por um agudo senso de inquietude, não pára um momento sequer, conferindo urgência até às suas passagens mais contemplativas (vide Canto de Rudá, Tupã e Yemanah). No entanto, esta energia ininterrupta jamais torna a audição cansativa, visto que a concepção elaborada dos arranjos e a voz comedida de Pedro Tasca servem ao propósito de criar paisagens extremamente dinâmicas e imersivas, mas jamais desgastantes. O resultado final é um trabalho energético e constantemente instigante que transcorre de maneira quase imperceptível por sua construção parcimoniosa.

Trazendo uma boa parcela de momentos particularmente marcantes (vide as ótimas Espírito Seco, Rural e Primeiro Contato com o Rio) em meio a uma seleção homogeneamente eficiente em seu intuito de causar impacto, Tramóia é um trabalho viciante que não apenas registra a sonoridade de seus autores com abrangência e eficácia, como reitera a riqueza existente na fusão do rock com ritmos regionais de maneira exemplar. Discaço que vale ouvir no repeat enquanto se dança.

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