Rodolfo Simor

RESENHA: P/ QUEM TEM CORAGEM DE AMAR (Chorou Bebel, 2023)

Com seu aguardado disco de estreia, o trio CHOROU BEBEL finalmente registra sua vasta miríade de elementos e influências numa tapeçaria sonora de escopo e consistência admiráveis, consolidando sua voz artística com propriedade no ótimo P/ QUEM TEM CORAGEM DE AMAR. (ARTE DA CAPA: Jessica Lobo & Rany Baby / FOTO: Melina Furlan)

 

Desde que surgiu no radar dos ouvintes há cerca de três anos, o grupo CHOROU BEBEL gradativamente vem conquistando espaço e renome com sua mistura de sonoridade arrojada, vivacidade e espírito reverente (mas nunca derivativo). Com um trabalho de ares retrô que emprega a MPB e o Pop como base para realizar uma mistura abrangente de gêneros e elementos, o trio capixaba vem trilhando uma trajetória compassada que, marcada por lançamentos pontuais (vide as memoráveis Mandiguê e Rouquidão) e apresentações marcantes, tem consolidado seu status como uma das descobertas mais pungentes a dar as caras no circuito espírito santense nos últimos anos.

 

Agora, o conjunto finalmente encerra uma longa espera e inaugura uma nova fase em sua carreira com o lançamento de P/ QUEM TEM CORAGEM DE AMAR, disco de estreia que não apenas corresponde às expectativas de seu público ao entregar um retrato cativante de sua voz artística, como figura junto dos melhores exemplares do gênero a serem resenhados por nossa editoria.

Primariamente produzido por Gabriel Bebici ao lado de seu parceiro recorrente, Gabriel Tosi, este trabalho imediatamente chama a atenção por sua amarração conceitual e estética: Abraçando a experiência afetiva como eixo temático central, o LP traz dez faixas (mais uma vinheta) que, habilmente construídas e encadeadas, conduzem o ouvinte por uma jornada evocativa que jamais perde o fôlego ao longo de seus enxutos 31 minutos e 32 segundos.

 

Mais que isso: De sua abertura arrebatadora (Anzol, que abre a audição de maneira estrondosa) até seu encerramento revigorante (Forrobodó), PQTCDA é um registro de fluidez invejável que concilia passagens mais vigorosas com instantes solenes de maneira admiravelmente harmoniosa, evidenciando o espírito caloroso contido nas letras como fio condutor para construir uma audição que transcorre de maneira quase imperceptível. E aqui é interessante perceber como a tracklist é estruturada de maneira a sugerir uma narrativa sensorial que tem início de maneira pulsante e gradativamente se torna mais melancólica até retomar a verve e encerrar com uma alegria contagiante.

 

Empregando elementos pontuais do vasto arcabouço de influências de seus autores (Samba, Xote, R&B, Trap, entre várias outras) com parcimônia e inteligência, este disco também oferece um acervo de arranjos altamente elaborados que recorrentemente flertam com o maximalismo sem jamais o foco. O resultado final é uma obra de riqueza e dinamismo patentes que, se equilibrando com eficácia entre a grandiosidade e a intimidade, consegue se mostrar emocionalmente ressonante e intelectualmente estimulante em medidas equivalentes.

FOTO: Melina Furlan / Divulgação

Servindo também como um parrudo cartão de visitas para seus autores, este LP é altamente competente na maneira com que evidencia a potência de seu trio titular tanto coletiva quanto individualmente: Enquanto Bozi imprime sua sensibilidade nas letras, violões e vocais com discrição e comedimento, Rany Baby explora seu timbre característico para entregar interpretações repletas de expressão, nuance e visceralidade (vide Ciumêra e Juro, uma das melhores do disco). Da mesma forma, o produtor e multi-instrumentista Gabriel Bebici assume o papel de carta curinga do grupo, desempenhando múltiplas funções como músico, programador, engenheiro e vocalista com competência homogênea, atestando seu talento e versatilidade.

 

Brutalmente enriquecido por um time fascinante de colaboradores que carimbam suas participações com presença e entrega, PQTCDA também conta com um leque de contribuições notáveis por parte de nomes como Chico Chagas, Mateus Pimentel, Oziel Neto e Duarte (o qual realiza interpretações belíssimas nas delicadas Desprevenido e Rouquidão). E, enquanto o produtor Rodolfo Simor marca presença nas guitarras (vide Forróbodó) e na assinatura de duas faixas (Me Invade e Pelo Avesso) com sua inventividade característica, o cantautor André Prando entrega mais uma prova de seu domínio vocal e drive singular na fantástica Zum Zum Zum (a melhor do registro).

 

Dinâmico, exuberante e dotado de uma dose cavalar de calor humano, P/ QUEM TEM CORAGEM DE AMAR é o tipo de trabalho que cumpre seus objetivos com primazia, conseguindo dar uma imagem nítida da autenticidade de seus autores ao mesmo passo em que apresenta um panorama rico de sua sonoridade e indica caminhos para o futuro. Funcionando poetica e tecnicamente, é um disco que faz jus à espera e declara em alto e bom som: O Chorou Bebel chegou, e veio pra ficar. Vale ouvir no repeat.

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